Quarta-feira, 7 de Abril de 2010

.A pé

 

Ontem à tarde, depois do An. sair do comboio, pensei que ia dormir o resto da viagem. Foi quando reparei que o sr. J. se tinha sentado ao meu lado. Boa tarde. Olá. Desculpe lá perguntar-lhe, mas a menina não é de cá, pois não? Não a vejo por aqui assim há tanto tempo. E conversámos. Sobre o Alentejo, a segunda-feira de Páscoa que eu não gozei e os anos do avô X., que ontem comemorava 75 anos. E ele falou do trabalho, que já pesa, dos filhos, que não arranjam namoradas, e contou-me coisas da Lezíria. E depois fomos os dois a pé, que o bom tempo já convida a isso, até ao Intermarché. Eu comprei o pão, ele encontrou o filho. É pena já ser comprometida, que era bom partido para minha nora, com essa cara e essa conversa, vinha mesmo a calhar. E eu ri-me muito, e lá lhe confessei que só o acho com ar de avô, nada mais que isso. Combinámos partilhar o comboio mais vezes. Ou fazer estas caminhadas a pé.

 

Ontem adormeci no sofá. Nestes últimos dias dormi uma média de 5 horas por noite, e o meu corpo só pedia descanso. Caí no sofá às 22h15, depois de falar com os pais. Acordei às tantas, com uma birra por ainda ali estar àquela hora, com luz, com televisão. Passei para a cama sem tempo de deixar as coisas arranjadas. Foi por isso que hoje saí de casa atrasada. Do carro nem sinal, que tinha ficado estacionado lá na estação. E os saltos nos pés não ajudavam à caminhada. Ainda assim, saí decidida a fazer uma corrida de 1km no tempo suficiente para apanhar o comboio. Tinha andando com este propósito uns 100 metros, quando o carro de um vizinho parou ao meu lado. Não leve a mal, mas vou para o lado da estação, quer boleia? E eu nem pensei duas vezes, que sim, agradeço, que hoje estou mesmo atrasada. E só quando entrei no carro a voz da minha mãe deu sinal: “L.S., mas tu conheces o vizinho de algum lado? E se te faz mal? Mas tu não pensas? Não mudas?”. Depois de pensar no assunto, fiquei um bocadinho envergonhada por ter aceite a boleia inesperada. Desliguei o volume dos pensamentos e fiz conversa. Então é vizinho de que andar? Pois, com este tempo nunca sabemos que roupa vestir. Sim, para Lisboa. Pois, andar a pé faz bem. E foi assim até à estação, onde ele fez realmente um desvio e me deixou. Só quando saí do carro, depois de um obrigado rápido, percebi que não sabia o nome dele nem lhe tinha olhado bem para a cara. Assim não lhe vou poder agradecer um dia como deve de ser. Sei que mora no primeiro andar, mas desde que temos elevador no prédio, confesso, deixei de usar as escadas, por isso vai ser difícil apanhá-lo. Caramba, vou a pé para a estação e para casa, mas depois apanho o elevador. E subi as escadas da estação a sorrir, enquanto pensava nisso.

 

Já tinha reparado nele algumas vezes. Um puto giro, ao estilo do meu primo F., com umas pestanas gigantes, calças largas e um gorro-boné. Entra no comboio também logo ao início, e sai antes do An. e da Li. me fazerem companhia. Costuma sentar-se perto de mim, mas naquele que eu acho o pior lugar: de costas, longe da janela; do lado oposto do meu: de frente, ao lado da janela. Senta-se, atira os pés para o banco ao lado do meu, e liga o leitor de mp3 para níveis que conseguem ultrapassar os do meu iPod. Hoje, foi quase tudo igual. Mas ao tirar o leitor da mochila, que nunca sai do colo dele, tirou também uma lata de Cola e um pacote de bolachas com recheio de chocolate. E eu não pude deixar de fazer um meio sorriso, quase reprovador, por ver aquele banquete antes das sete da manhã. Não devo ter sido discreta, porque ele atirou-me um – És servida?. E eu sorri, enquanto tirava uma do pacote e agradecia. Vou guardar para logo, disse-lhe. – Então tu és a miúda das boinas giras. Sou? Não sabia. Até podem ser giras, eu é que não sou miúda. Quantos tens? 25. Ena, tens mais, espera, tens mais 7 anos que eu, pensava que eras da minha idade. E conversámos sobre a viagem de finalistas e os exames nacionais, as boinas e as músicas do iPod, as miúdas e a Primavera, até à hora de ele partir. Dividimos bolachas amanhã? Estou de dieta! Experimenta andar a pé, gritou-me ele da porta. E voltei a ligar a música, enquanto esperava a próxima estação, a Li. e o An., que nos tem abandonado muitas vezes nos últimos tempos.

Lá fora: "How much longer will it take to cure this"
L. às 15:55
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10 comentários:
De L. a 11 de Abril de 2010 às 12:40
E não vou saber quem és...? Vá lá... [obrigada por partilhares, às vezes quase me esqueço destas 'coisas'...]
De Anónimo a 11 de Abril de 2010 às 12:58
Não sabes quem sou?!
Piu! :D
De L. a 11 de Abril de 2010 às 16:42
Esse 'piu' deu-me uma pista... Mas posso estar redondamente enganada. É melhor dizeres-me.:)
De Anónimo a 11 de Abril de 2010 às 20:58
Não te digo absolutamente nada, adivinha se conseguires :D
Andaste a espalhar tantos poemas por aí para não saberes?
Piu

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