Por esta altura, devia estar em Londres. A usar as minhas meias novas quentinhas. A estrear as minhas novas galochas. A gastar libras. A tentar sobreviver ao frio e à neve. A viver o primeiro fim-de-semana das amigas internacional. Mas os senhores espanhóis não deixaram. Já desfiz a mala. Já usei as meias quentinhas. Já estreei as galochas. As libras ainda me ocupam a carteira. De Londres nem sinal. Por esta altura, estou no trabalho.
Quando começaram a chegar os habituais emails de preparação do fim-de-semana das amigas, todos traziam uma mesma ideia. Desta vez ia ser no meu sítio novo, na ‘minha’ casinha nova. E eu tive medo, mas não o pude partilhar com elas. A A., que para além de ser amiga partilha a secretária do trabalho comigo, tem sido visita de muitos dias, e até baptizou o Marcos, mas faz-me sempre sentir um bocadinho mal de cada vez que lá vai. “Mas trouxeste isto? E isto também? Mas isto não te recorda não sei o quê?” Recebi as amigas lá em casa com estas coisas na cabeça. E com outras que me têm feito mossa na caixa dos afectos.
Depois das apresentações oficiais, dos petit-gateau, das uvas, e das mangas, começaram a ficar impacientes. Vamos? Não está na hora? Onde vamos? Fomos para Sintra, descobrir aqueles sítios especiais que nos esperam sempre em cada fim-de-semana das amigas - a casa de chá da Raposa. E queria dizer-vos que o meu ar pesado enquanto bebia o “Festa” em golos pequeninos com as duas mãos não era só sono. Estava mole, estava triste, que os últimos dias não tinham sido bons. E à noite, quando adormeci no sofá enquanto vos via a pintar as unhas e ouvia as vossas histórias, não foi só cansaço. Foi segurança, foi protecção. Tive a certeza que os pesadelos e os medos não me iam apanhar de surpresa mais uma noite. Porque vocês estavam ali. Quando acordei, só de manhã, e a minha única companhia era o vento que entrava pela lareira e empurrava a chuva contra a janela, levantei-me e fui devagarinho até ao quarto para vos ver. Achei que ficavam bem ali, na minha casa, entre as coisas do meu passado, do meu presente e meu do futuro. Depois foi só voltar para o sofá, esperar que fossem acordando, que a A. e a K. começassem a discutir por qualquer coisa, que a N. retocasse a pintura das unhas, e que nos sentássemos à mesa a devorar cappuccinos, croissants de massa doce e muitas torradas atulhadas com os doces que a avó A. me vai dando de cada vez que me apanha por lá. E perceber, uma vez mais, que o sítio mais importante dos fins-de-semana das amigas não está dentro das paredes que nos acolhem, é aquele que compomos quando estamos juntas.
"Este talvez tenha sido uns dos fim-de-semana das amigas mais "frouxos". Talvez a chuva inesperada e o vento a soprar pela lareira da L. tenham tornado estes dois dias mais cinzentos. O local foi unânime, todas queríamos conhecer a nova Lua e aproveitaríamos para conhecer os cantos à casa e à nova vida. A data no calendário foi quase um achado. E mais uma vez a N. veio do Porto para estar connosco (e nós com ela e com os croissants de massa doce). O fim-de-semana teve pouca cor. As gargalhadas ficaram à porta e as histórias mirabolantes à espreita na janela. Os planos para Londres foram levados pela falta de paciência e os planos para a tarde de sábado cobertos pelo burburinho das ruas da vila de Sintra. Não comemos uma queijada nem fomos ao "Saudade". Sentadas a beber chá "Festa" na Raposa, o momento foi de calmaria. A L. tinha sono e eu pouca fome. Foi fácil desanimar quando chegámos a casa sem planos para a noite. Jantar no Bianconero. Consegui fazer o senhor do restaurante voltar cinco vezes à mesa tal não era o grau de imbirrância. Não gosto de Nestea, os Canelones estão frios e não quis sobremesa. A K. estava triste porque não ia ao aniversário do costume. Talvez, no meio disto tudo, a N. fosse a única sobrevivente. Terminámos o sábado, como de costume, com a N. agarrada à manicure. A L. adormeceu sobre o cansaço. E eu deixei-me cair na almofada, pronto para sofrer um ataque de hipotermia à pala dos calores da K.
E seguimos. E a força levou-nos às compras e a ver "Sexo e a cidade 2". Deixou-nos ficar nas cadeiras a chorar e a rir enquanto toda a gente saía. Depois deixou-nos parar lá em baixo, abraçarmo-nos as 4 com força, enquanto a C. dava por uma nova borbulha. Levou-nos a uma partida de matraquilhos e equilibrou-se, num 5 a 5. Agarrou em nós e meteu-nos num táxi, com o senhor taxista a quem a sogra que está sempre bêbeda "vê como ao Diabo", e levou-nos a jantar ao Bairro Alto. Conduziu-nos pelas ruas de encontro à Sé e fez-nos parar para deixar uma moeda e cantar com o Tony Banza um fado a Lisboa, que me deixou a chorar. Chegámos à Sé a tempo de cantar “Summer Nights”, quando percebemos que a força nos empurrava para a Bica, sempre com o menino da blusa das riscas igual à do Z. à nossa frente. E da Bica saímos, as quatro de mão dada como durante toda a noite, a pé até casa da C.. E a força tomou conta de nós e fez-nos cantar as músicas proibidas da tuna (Assentou praça no quartel, o sacana do rapaz, do sargento ao furriel, do tenente ao coronel, todos lhe foram por trás) pelas ruas de Lisboa. Quando nos sentimos já sem forças, rumámos a casa da A. para dormir juntas na cama gigante, de 1m2 para cada uma. Foi aí que percebemos que não estávamos sem força. E rimos, rimos sem parar enquanto brincávamos e explorávamos todas as possibilidades da frase do avô da A. quando ela lhe contou que íamos dormir todas juntas, "ai filha, nunca percas a dignidade". "Olha, até somos o melhorzito que por aqui passou", rematámos com uma gargalhada enquanto nos obrigávamos a dormir. Hoje a força puxou-nos para um pequeno-almoço regado a capuccino e barrado com manteiga e doce de frutos silvestres, e para um banho de sol na esplanada da praia. Fez-me vestir um biquíni tigresa da A., a mim, que o mais ousado que tenho é com flores. Deixou-nos beber morangoskas servidas pelo Robinson-com-força-para-carregar-mesas-sozinho e não nos deixou perceber porque todos os carros que nos rodeavam tinham matricula ZR ou EL.
Percebemos, hoje, que a força só nos levou aonde queríamos. Podemos ter pensado que estávamos a ser conduzidas, mas fomos nós que nos conduzimos. E parámos quando achámos que aquele não era o caminho, o sítio certo. Quando tivemos força para isso. Porque a força está dentro de nós. Somos nós. As 4. É na boa, é na boa. [e há quem diga que “é o melhor da vida" – ao nível do C.S.I.]
E a força não me ajudou ontem. Estava a sair do banho com o champô e o amaciador na mão para a mala do fim-de-semana das amigas e devo ter calculado mal a distância, porque o meu pé dobrou-se todo e acabei de joelhos no chão, queixo no banco e coisas espalhadas. Tive tantas, tantas dores (o meu pé dobrou completamente) e não conseguia chorar. E dei por mim a falar sozinha, "ai L. Sofia, L. Sofia, é no que dá gastares lágrimas por tudo e por nada, quando precisas mesmo delas não as tens, esgotaste-as!".
Mas ajudou-me na sexta: tirei o dia de férias, entrei no comboio, e segui até Aveiro para passar o dia com o meu Az.. Bebi o melhor capuccino de sempre (com chocolate!) com vista para o mar da Barra, mas o melhor não foi isso. Foi perceber, uma vez mais, que o meu Az. é uma das fontes da minha força.
Lá fora:
“Não tenho legitimidade para isso”
“– Caramba, estes iogurtes têm validade até 2 Julho. – Então, não chega? – Não é isso. Vejo como a minha vida passa pela validade dos iogurtes. – Devias escrever um post sobre isso.”
“És a má da fita.”
“Não devias pôr um deadline.”
“- E achas que gosta ou que não gosta? Não percebo. Talvez eu não tenho legitimidade para isso.”
“Houve mais alguém que se preocupasse em aquecer-te o rabinho? Num SLK? Vai!”
[L., A., N., C.]
[A., L.]
[L.]
[A., N., L., C.]
Melhor que um jantar das amigas? Só um fim-de-semana das amigas. Inteirinho.
C., enquanto comia croissants de massa doce que a N. trouxe do Porto: “Estou a ter um orgasmo. Agora estou assim. Tenho orgasmos com a comida”.
C., depois de um grande prego com batatas fritas: “Não sei se beba ou não café, faz-me mal à úlcera”.
N., enquanto me tentava expulsar, e à A., do sofá: “Já tomaram a pílula? Olha a pílula. Vai tomar a pílula!”.
N., enquanto falava da procura de casa com o M.: “Tem boas áreas e um parque infantil bom para os miúdos” [som da A. a engasgar-se].
A., nunca recriação da música dos Afonsinhos do Condado: “P’rá onde? P’rá Ericeira! Que horas são?”.
A, a dormir e a ver o telemóvel: “F******, o P. mandou uma mensagem? Vou ignorar”. De manhã: “O P. mandou uma mensagem ou eu estava a sonhar?”
A., para os senhores da GNR, de Ray-Ban, que faziam a patrulha a pé na Ericeira no sábado à tarde: “Pode tirar-nos uma foto às quatro a saltar ou é contra a lei?”. [muito obrigada aos senhores, que a foto ficou muito boa, e só tiveram que respeitar o 1,2,3 da C.]
L., depois de termos estado as quatro, ao mesmo tempo, a experimentar os mesmos vestidos num espaço minúsculo com a C. a tirar-nos fotos, “Se eu levar estes dois, quanto é que me faz de desconto?”.
L., todo o fim-de-semana: “Preciso de ir a uma farmácia”.
Perfeito [compras, muita comida, muitas gargalhadas, muito sol, praia e banho de água fria para trazer a realidade de volta].
(O fim-de-semana das amigas para a A. [Estrelinha]: O fim-de-semana das amigas foi perfeito. Já o sabíamos de antemão, é certo. Mas é sempre inesperado encontrar-nos cada vez mais crescidas e atentas. Rimos até não poder mais, desta vez nem brigámos. Cantámos no carro a caminho da praia, fomos (melhor, dizendo elas foram) às compras, enchemo-nos de pão, doces e guloseimas, vimos um filme bem lamechas, tomámos o pequeno almoço de cabeça ao sol, contámos os segredos do costume e assentámos as promessas já comuns. Terminámos o domingo, a almoçar na Cappriciosa, entre uma sangria de espumante e conversas em tom somos-adultas. Desta vez não corremos para a N. apanhar o Expresso para o Porto.
Fiquei a pensar que os sinais de maturidade começam a ser evidentes. A N. compra o bilhete de antemão. Vamos ao supermercado de carteira na mão. Adormecemos às 22h00. Já conseguimos tomar banho de água fria. Compramos roupas vintage e escutamos a M80. Falamos de casas e planos para o futuro. Preocupamo-nos com as poupanças e com as férias do verão. E até tratamos o empregado de mesa por você. Eu já não gosto daquelas tostas mistas, do prego nem da massa italiana. Não tenho birthday list, nem planos para o próximo dia 1. Maturidade ao quanto me obrigas.
O fim-de-semana das amigas foi perfeito. Porque tal como disse a L. “nem os cabelos temos parecidos”!)
Calça de ganga + botinha: Estrelinha; Sapatos de bailarina brilhantes: BettyBoop; Melissas de veludo: L.; Sapatinhos cinzentos: Branca de Neve/aniversariante.
*Uma primeira vez boa (e doce).
Encontro de Janeiro, restaurante "Fenícios"
Não sei se foi da confusão do trânsito com a A. ou de conduzir o carro da C., de apanhar a I. na beirinha da estrada ou da emoção do jantar, dos crepes recheados ou de as ter lá em casa, do strudel de maçã e morango do ACSantos ou do ben-u-ron, do "intruso" que se juntou a nós na hora da sobremesa ou de não ter de sofrer mais pela selecção, hoje não custou nada levantar-me da cama.
Alguém já disse tudo:
http://babaerasmus.blogspot.com/2008/06/mexam-me-estes-cus-que-ns-temos-jantar.html
Programa de quinta feira passada: jantar no Campo Pequeno + concerto exclusivo David Fonseca com a Ana e a Carolina. Entre massas, a novidade caiu como uma pequena bomba. Alguém diz: "já percebeste que nunca mais vais estar sozinha?". Alguém quer? E lá fomos. Percorrer as ruas de Lisboa. Pedir indicações ao menino do restaurante com um sorriso tão sincero. Fazer inversão de marcha mesmo ali. Procurar a fábrica das massas. Encontrar o convento do Beato. Sentarmo-nos no chão. Assobiar a única música que conhecemos. E, logo depois, fugir dali. Sozinha. Nunca mais. Agrada-me.
Imagem: elotopia.net
Acho que já repeti a história vezes sem conta. Encontrei um tesouro. No primeiro dia de faculdade. Três meninas, longe de casa, como eu. Quatro anos depois do primeiro encontro, uma promessa: a amizade não podia acabar. E tudo o que ela traz. O acordo era simples, todos os meses um jantar num restaurante de uma nacionalidade diferente. Chinesa, Italiana, Caboverdiana, Nepalesa, Japonesa, Russa, Mexicana, Tailandesa, Americana, Egípcia, ... . Fomos provando todas elas, misturando cada garfada com sorrisos, segredos, gargalhadas, histórias. O tempero é sempre o mesmo, a amizade. Ontem levámos os nossos ingredientes preferidos ao "Found You". O ponto de encontro já não foi na minha Travessa. O Queijinho já não nos levou. Mas que importa? Nós estávamos lá. Entrámos no táxi na Av. de Roma e nem esperámos, começámos a tirar tudo o que tínhamos guardado bem no fundo de nós há já um mês. Coisas boas, cursos novos, línguas diferentes, danças contagiantes, propostas irrecusáveis, coisas menos boas, as mensagens não correspondidas, o amor que passa ao lado. Como poderia o táxista não entrar na nossa conversa? Aconselhava a Carolina quanto à canalização da nova casa. E não houve quem lhe tirasse a teoria defendida durante toda a viagem. Que são todos uns aldrabões, não se pode confiar em ninguém, tudo se estraga rapidamente. Saímos. Pela Rosa seguimos até à Travessa dos Inglesinhos. De cada porta saía um aroma diferente, de cada pessoa uma alma e um estilo em nada iguais mas que pareciam encaixar-se tão bem naquela ruazita do Bairro Alto. No "Found You" o cheirinho a queijo acarinhava-nos todos os sentidos. O colorido das tias de Cascais contrastava com o papel de parede bege e dourado que tanto apaixonou a Ana e a Carolina. A ementa trouxe-nos à realidade e, depois de feitas as contas, lá pedimos um fondue da vazia, uma raclette de carnes frias e uma água. Nada de entradas, nada de sobremesas, nada de bebidas diferentes. Vidinha de jornalista, como acabámos todas por concordar. As entradas começaram a chegar, com a Carol e a Nês a falar, e eu e a Ana a ouvirmos, atentas, a explicação da empregada. Não conseguimos dizer que não queríamos. Vários minutos de sofrimento depois, lá expulsámos as coisitas da mesa. Lá fora, a chuva e os trovões davam música e côr às nossas conversas. À saída, a foto da praxe com o menino a quem a Carolina pediu que cozinhasse com amor. Não precisava, o sorriso dele serviu para nos apaixonar a todas. No regresso a casa, uma partida... Segredo, segredo. Mas que nos deixou a todas com um sorriso enorme. No próximo mês, brasileiro na costa ou francesinhas no Porto. Já percebemos que o sítio não interessa. Que o que temos e somos quando estamos juntas é bem mais importante do que tudo o resto. E que somos tão felizes quando a ementa nos mostra um prato de 70 euros como quando vamos ao McDonald's. Afinal, encontrámos o melhor tesouro do mundo.
[foto: elotopia.net]
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