Segunda-feira, 3 de Outubro de 2011

.O meu voto

Sou apartidária. Nunca me identifiquei com nenhum partido político, vou-me encaixando em ideias soltas e tenho votado sempre depois de intensa pesquisa sobre os candidatos. Ainda assim, de vez em quando é bem possível verem-me em comícios, com símbolos de partidos ou em festas de apoio. Por dois motivos, sendo o primeiro deles a família. Tenho fotografias na praia, com uns 4 anos, enrolada numa toalha do partido da prima Bri., assim como com laranjas pequeninas a fazer de brincos ou bandeirinhas que eu nem sabia o que significavam, que ela me ia dando para brincar. O segundo é a música. Já fui ver Rui Veloso a apoiar o Moita Flores em Santarém, onde nem sequer voto, e fui ao concerto de apoio ao Manuel Alegre quando se candidatou a primeira vez a Presidente da República, em 2005. Do cartaz constavam nomes como UHF, Manuel Freire, Lena D'Água, Rádio Macau e Jorge Palma. Quanto a este último, foi mesmo o melhor concerto dele que alguma vez vi, e já vi alguns – no final da noite, depois dos autocarros dos apoiantes terem partido, ficou no palco, connosco à volta, talvez menos de 50 pessoas num Atlântico vazio, a cantar em modo ‘discos pedidos’. Mas, para mim, a surpresa da noite foi mesmo o senhor Pedro Barroso, que eu não conhecia de lado nenhum. Há alguns dias atrás dei por ele entre as 399 músicas do meu iPod – agora tenho a mania de passar todas as músicas das outras pessoas e fazer uma triagem só algum tempo depois. E é a mesma música que me fez sorrir naquela noite, entre gritos de apoio que eu ia ignorando, e desejar ser aquela menina para alguém - a menina dos olhos de água. Tem passado em modo repeat por estas bandas. Eu voto nele.

 

Quinta-feira, 29 de Setembro de 2011

.Só

Há teorias que vou ouvindo por aí e que me fazem tanto sentido que resolvo agarrá-las para mim também - mas a referência à fonte nunca é esquecida. Esta pertence à Ve.-do-cabelo-curto – que agora já é comprido, ou do-piercing. Tinha de a tratar assim por existirem duas Ve. na minha vida, e nem sempre as pessoas percebiam de quem estava eu a falar. Esta Ve., a do-piercing (a outra já falei dela aqui), sempre teve umas teorias muito engraçadas. O tempo foi apagando muitas delas, já não falamos tanto quanto gostaria, e já vão longe os tempos em que partilhávamos as mesmas salas de aulas no secundário. Ficou-me esta: “Mais vale mal acompanhada do que sozinha. Não há nada pior do que solidão”. Eu estou habituada a pessoas. Desde que nasci que ia para a loja assim que acordava, que fazia sestas entre as voltas da farinha ou do pão, que aprendi a estudar no meio do barulho por não gostar do silêncio, que ligo a televisão ou o rádio assim que chego a uma casa vazia, que detesto estar sozinha, que faço tudo por uma companhia e chego a dormir de luz acesa quando não há mais ninguém em casa. Encaixei-me nas palavras dela, vi que estava certa. Mas a mãe sempre me disse “todos precisamos do nosso espaço e da nossa solidão”. E talvez tenha chegado a minha hora de o perceber. Esta semana estou a fazer um horário que me permite sair às 15:30. Assim que posso, entro no carro e sigo, sozinha, até à praia mais perto do trabalho, em Paço de Arcos. Já gostei muito de praia, já gostei pouco, e este ano dei por mim a sentir mesmo falta dela, talvez por não ter podido ir tantas vezes. Como companhia levo apenas a toalha, o iPod e o livro do Haruki, a quem abri a porta mais uma vez. O ritual tem sido o mesmo todos os dias: chego, estendo a toalha, corro para um banho capaz de refrescar até os pensamentos mais negros, e depois volto à areia, para alternar entre a leitura, a música, os pensamentos soltos e as pessoas que me rodeiam. Ali, perdida na areia, tenho descoberto o prazer de estar sozinha. E hoje, enquanto espero ansiosamente pela hora de saída para repetir todos estes passos, penso em como meter conversa com a Ve.-do-piercing. Quero dizer-lhe que me lembrei dela, que tenho saudades da boa disposição que trazia todos os dias, das férias sem pais no Algarve e dos tempos que partilhámos juntas. E que, às vezes - talvez mesmo só às vezes, a teoria dela está errada. Às vezes - talvez mesmo só às vezes, estar sozinha é muito melhor do que estar mal acompanhada.

Quarta-feira, 14 de Setembro de 2011

.Contrastes

Ontem foi dia de voltar ao dentista. Contas feitas, tirei o aparelho há oito anos e há mais de dez que pisei aquele consultório pela primeira vez. Acordei cedo para poder ir de comboio, um dos meus pequenos prazeres. De iPod nos ouvidos até entrar na carruagem, e a alternar entre “A vida secreta das abelhas”, da biblioteca de Oeiras, e as vidas que iam ocupando os bancos à minha volta, segui até Entrecampos. Voltei a pôr o iPod e comecei a andar para o fundo – as torres cor-de-rosa eram já ali e a consulta era só às 10:30 – talvez me atendessem mais cedo, pensei. Foi quando vi um casal de velhotes a correr para o comboio, que já tinha fechado as portas e começava a andar nesse instante. Ele ia mais à frente, ela tentava apanhar os dois. Olhei para eles, para os ténis branquinhos nos pés dele – como aqueles que oferecemos nos anos ao avô há tanto tempo e que ele continua a usar como se fossem a coisa mais preciosa deste mundo, e não pude deixar de ver ali, neles, os meus avós. Deu-me tanta pena vê-los assim, a correr, a bater com a mão na porta sem que isso travasse o comboio, que comecei a chorar ali mesmo, enquanto andava. Não sei explicar bem porquê, só senti o coração apertado, e chorei. Chorei por eles. Chorei por mim. Pelos medos, inseguranças, dores, e pelo que o tempo faz. Chorei pelo pai, por vê-lo de muletas, por não lhe poder dar aquilo que merece. Chorei pela mãe, por não poder ajudar a transformar mesmo os sonhos mais pequeninos em realidade. Chorei pela mana, pelas doenças, doencinhas e doencitas que a incomodam sempre. Pelo trabalho que começa agora a procurar, pelo mestrado onde quer entrar. Chorei pela avó T., a ser operada ao olho naquele momento. Pela avó A., com medo que os maus entrem pela casa adentro sempre que está sozinha. Pelo avô Al., ao imaginá-lo orgulhoso no palco a acompanhar as cantadeiras com a gaita-de-beiços. Pelo avô X., que já não está connosco. Chorei pelo actor de Spartacus, que morreu esta semana com a doença do Tuto (chorei por ele também), a mesma que, com a quimioterapia, enfraquece a Ce. de dia para dia. Chorei pelo sr. J.P., a quem o coração quase trocou as voltas e pela Cr., que sofre por isso. Chorei pelo Z., enquanto o imaginava em outros braços a dançar a música que estava a ouvir no momento da mesma forma que o faz comigo. Chorei pela Lily, heroína do livro guardado na mala, que acabava de encontrar May sem vida. Dei por mim a chorar por este mundo e pelo outro, por mim e por todos os outros. Talvez fossem lágrimas acumuladas em tantos dias, que precisavam apenas da mínima faísca para saírem para fora. E o dique rebentou, ali na plataforma de Entrecampos, ao ver o desalento de dois velhotes que acabavam de perder o comboio. Continuei a andar, aumentei o som e esperei que as lágrimas secassem. Só vejo o meu dentista preferido uma vez por ano, não ia receber o “cara linda, cá estás tu outra vez” lavada em lágrimas. Esperei na sala por pouco tempo e entrei para uma repetição destes últimos anos. “Cara linda, cá estás tu outra vez. Sorri. Abre. Fecha. Trinca. Que curso tiraste tu? Jornalismo? Como é que foste para isso? E onde estás agora? Ah, pois é, já não me lembrava. Continuas perfeita, com um sorriso perfeito. Flúor de limão, mentol ou morango? Volta cá daqui a um ano. Gosto em ver-te, cara linda”. E eu saí com o meu melhor sorriso, sem pensar que o mesmo discurso estava já a ser repetido à menina que entrava. Olhei para as horas, 10:37. Corri até ao Campo Pequeno para comprar uma massinha para o almoço e cheguei à plataforma ao mesmo tempo que o comboio – 10:57. Corri, entrei sem saber bem como, percebi que não tinha validado o bilhete, voltei a sair e a entrar e foi quase por milagre que segui viagem. Ou não. Estava tão absorvida na leitura que nem dei conta das pessoas que iam entrando e saindo, nem dos meus companheiros de viagem. Foi só quando a minha paragem se aproximou, e me encaminhei para a porta, que os vi. Não eram os mesmos da manhã, era outro casal de velhotes. Tinham tantos, mas tantos sacos, que não consegui imaginar como tinham chegado até ali. Duas malas térmicas grandes, um saco daqueles enormes de supermercado cheio, e dois carrinhos de compras, um deles bem grande. Tirei os fones, arrumei tudo na mala e fui ter com eles, posso ajudar a levar os sacos? Que sim, que podia, muita obrigada, que talvez o elevador estivesse a funcionar e aí seria mais fácil. Levei-os até lá, e tentei certificar-me de que não precisavam mais de ajuda. Foram tão convincentes que acreditei que alguém estaria lá em baixo à espera deles. Foi só quando desci as escadas e me dirigia para a saída que os voltei a ver, sozinhos, a tentar equilibrar tudo aquilo. Fui a correr, deixe-me ajudá-la, para onde vão? “Deus lhe pague, para o táxi”, dizia-me. Agarrei em dois dos sacos e senti mais uma vez o peso de tudo aquilo – muito mais do que o que estava lá dentro. Isto é muito pesado para si. E ela agarrou-me o braço, que as dores mal a deixavam caminhar, que já tinha caído desamparada no Areeiro e o joelho, negro, aumentava de tamanho e impedia-a de continuar. Ajudei-os a entrar no táxi, com um condutor nada simpático. Ainda ousei pedir-lhe para os ajudar a descarregar tudo o que traziam de outras hortas quando chegassem ao destino, mas o ar dele de espanto não me deixou mais descansada. Acho que ainda nem me tinha despedido deles e já as lágrimas tinham voltado a cair. Pelo peso dos sacos, pelo joelho dorido, pela falta de alguém à espera deles. Por tudo e por nada, pelos males do meu mundo e do mundo dos outros. Segui para o carro, à espera para me levar até ao trabalho, debaixo de um sol que sufocava tanto quanto as lágrimas. Pensei em como estes dias têm sido de contrastes. Passei o domingo na praia, com o Z. e os pais, e não parámos de rir. Das piadas, da cesta da comida, do bronzeado manchado que apanharam os três. À noite, enquanto comíamos choco frito em Setúbal, fomos atacados por uma vaga de mosquitos que nos fez chorar a rir. Ficámos todos picados, mesmo depois de termos morto uns 20. Eu matei três só na testa do pai, o pai batia no Z., a mãe em mim e até derrubei um copo de coca-cola em cima de mim ao tentar acabar com um que me picava o braço. Mal conseguimos comer, entre picadas e gargalhadas, enquanto víamos as outras mesas também neste estranho ritual de agressão aos companheiros de refeição. E ali estava eu, depois de tanto riso, numa crise de choro pela segunda vez no mesmo dia.

Depois de sair do trabalho voltei a Lisboa de comboio. O Z., o Di. e a Ta. esperavam-me para um jantar no Lucca. E aí voltei a rir, muito. A celebrar a amizade, o amor, as coisas boas que a vida também me vai trazendo, regados a chá de jasmim com limão e canela. Liguei aos pais e aos avós, a tentar sossegar o temporal que me tinha apanhado durante o dia, e ainda ajudei a mana a fazer a carta de motivação para se candidatar ao mestrado antes de cair na cama. Adormeci a tentar equilibrar as emoções do dia, a tentar conciliar tantos contrastes. E, tenho a certeza – talvez por não ter mais lágrimas para gastar -, com um sorriso. Aquele que o meu dentista diz que é perfeito.

Terça-feira, 10 de Maio de 2011

.Maravilhosa estupidez

Fui ao Porto no fim-de-semana, a um casamento, e apaixonei-me por estas três. Parece que ultimamente só me dedico à música, mas a explicação é outra. Quando não posso escrever sobre o que me apoquenta, refugio-me nestas coisas. E oiço, e canto, e danço, e rio, e choro… Agora com estas.

 

 

 

 

 

 

Lá fora:

"Para o mundo não, que nós não somos deste mundo."

"Odeio o ... ."

"Quero, só para dar uma festa aos meus pais."

"Mais do que o teu exterior, é o teu interior que mexe comigo."

 

L. às 13:04
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Domingo, 17 de Abril de 2011

.O meu iPod

Esta semana obriguei-me a uma difícil tarefa, limpar o meu iPod. É quase tão difícil quanto mexer numa caixa das recordações. Há músicas que já foram preferidas um dia e deixaram de o ser depois de passarem para ali, mas que ainda consigo ouvir de vez em quando. Há as outras, as que nem a repetição me fez gostar menos delas e que estão ali sempre à espera de me provocar qualquer coisa. E aquelas que passo à frente sem pensar duas vezes. Há umas que já não ouço, mas que não tenho coragem de apagar, pelo que significaram um dia. Há as novas, as que já não sei quando ouvi pela primeira vez, as que consigo dizer quando as passei para ali. Há as que só oiço no máximo, as que me obrigam a pensar, as que não posso mostrar a ninguém. As que não ouço sem dançar, as que me obrigam a parar. Misturo as que servem de banda sonora para as lágrimas e para as gargalhadas. Misturo Kean com Quenn, fado com músicas de bailarico, banda sonoras de filmes com a da minha vida. Passei de 498 para 305 músicas. A banda sonora da minha vida vai mudando sem que eu perceba. Como eu. Ou não fossemos eu e o meu iPod uma e a mesma coisa – feitos das mesmas coisas, das mesmas músicas.

 

U know who I am (David Fonseca)

Gosto de algumas coisas, não de tudo. Nos tempos em que uma das amigas ainda era jornalista, fomos a um concerto no Convento do Beato, de convite na mão, com puffs laranja e coisas giras. Esperámos pela música do assobio e saímos de lá, um bocadinho enjoadas. Mas de vez em quando ainda me surpreende, como com esta.

“And when the world seems senseless

It's me and you against them

And I love you because you know who I am”

 

 

Rosa à Janela (Baile Popular)

Enquanto fazia a revista de imprensa, há já alguns meses, descobri este cd no meio do jornal. Ouvi e passei logo para o meu iPod. Faz-me lembrar os bailaricos da minha terra. Ontem fui a pé para o trabalho e dei por mim a dançar enquanto a ouvia, na rua das casinhas ao lado do campo de golfe, mesmo antes do monte de ervas de onde saem coelhos e perdizes enquanto eu passo.

“Não há rosa como ela na cidade

Nem nos campos donde vim

Agora põe-se à janela com vaidade

À noite à espera de mim”

 

 

La Noyee (Yann Tiersen)

É uma repetição, aqui no estaminé. E há-de ser. É a música da minha vida. Para os bons e para os maus momentos. Quando não sei o que ouvir (o que sentir), é esta que eu oiço – sem correr o risco de enjoos. Parece que o senhor vem cá no Verão, e a mana já me convidou para ir.

 

 

Amor (Ben E. King)

Não gostei do filme, mesmo sendo uma comédia romântica (Dia dos Namorados). Mas gostei das adaptações das músicas, e tenho quase todas aqui. Sempre que a oiço imagino-me a dançar com um vestido cheio de folhos e muita roda.

“Amor, amor, my love,

When you're away,

There is no day

And nights are lonely.

Amor, amor,

My love, make life divine,

Say you'll be mine

And love me only.”

 

  

Os Búzios (Ana Moura)

A turma da mana, ainda no secundário, organizou uma noite de fados. Nessa altura só tinha assistido a uma, por estar de castigo. Foi o Jorge Fernando que subiu ao palco para cantar todas as músicas da noite, e eu apaixonei-me por esta, escrita por ele. A senhora que me perdoe, mas gostei mais da versão dele. O problema é achá-la.

“À espreita está um grande amor mas guarda segredo

Vazio tens o teu coração na ponta do medo

Vê como os búzios caíram virados p’ra norte

Pois eu vou mexer no destino, vou mudar-te a sorte”

 

 

Let her go (Miss Li)

Gostei de uma música dela que ouvi já não sei onde e, vai daí, comecei a procurar mais. Houve uma altura em que me senti encaixar nela. Houve tempos em que nos encontrámos mais vezes, mas apagá-la é que não.

“She can't say, all the things she wanna say,

'cause there is always something in her way,

and always something there to keep her down, eh.

She can't do, all the things she wanna do,

'cause there is always someone there like you,

and holding her down and pushing her back, eh.”

 

 

Não sei falar de amor (Deolinda)

Não é uma das minha músicas preferidas de Deolinda, mas gosto, sobretudo, da letra. Devo ter quase todas as músicas deles aqui. Não tinha ainda ouvido falar do grupo quando o T. me enviou esta música – fá-lo tantas vezes. Esta sei porquê. Talvez por me conhecer tão bem e saber que eu também sou assim.

“E soubesse eu artifícios de falar sem o dizer

Não ia ser tão difícil revelar-te o meu querer

Timidez ata-me a pedras e afunda-me no rio

Quanto mais o amor medra, mais se afoga o desvario”

 

 

Saiu para a rua (Rui Veloso)

Um dia antes do concerto no Coliseu conheci esta música por acaso – liguei o rádio e estava a passar. E nesse mesmo dia entrou aqui.

“Saiu para a rua insegura… Vagueou sem direcção, 

Sorriu a um homem com tremura e sentiu escorrer do coração

A humidade quente da loucura.”

 

 

The Show (Lenka)

Era sábado de manhã, e eu tomava um pequeno-almoço tardio com a mana. Mudámos de canal pela milésima vez quando ouvimos esta, a terminar um programa cor-de-rosa qualquer. Gosto muito.

“I am just a little girl lost in the moment

I'm so scared but I don't show it

I can't figure it out

It's bringing me down I know

I've got to let it go

And just enjoy the show”

 

 

When the stars go blue (The Corrs)

Na música, tenho vários ódios de estimação. Não posso com U2, Evanescence, The Corrs, Coldplay. É engraçado que uma das músicas da minha vida seja cantada pelos manos Corrs com o senhor Bono Vox. Foi a G. que ma mostrou, quando fazíamos furos nos dorsais dos meninos numa prova de BTT na terrinha. Gostos não se discutem. Nem se explicam.

“Where do you go when you're lonely

Where do you go when you're blue

Where do you go when you're lonely

I'll follow you”

 

 

Laura (Jorge Palma, Diogo Infante, Lena D’Água)

Gosto tanto deste senhor (o primeiro). Apesar de ainda não estar refeita da espécie de concerto que ele deu no MusicBox, no dia de Natal. Fiquei ali, de pé, não sei quanto tempo depois de ele ter saído aos pontapés e murros na porta, à espera que ele voltasse e cantasse mais umas músicas. Não voltou. Gosto de muitas, desta muito mais.

"Todas as noites

É por ti que adormeço"

 

  

Runaway (Kanye West)

Esta é a menina dos meus olhos nos últimos dias. Ouvi-a um dia não sei onde, e só há pouco tempo a descobri. Está em modo repeat. Gosto da letra, da música, do vídeo. Tem aquela 'coisinha' que toca cá dentro. Às vezes, é só o que apetece. Runaway (fast as you can).

“And I always find, yeah, I always find somethin' wrong

You been puttin' up wit' my shit just way too long

I'm so gifted at findin' what I don't like the most

So I think it's time for us to have a toast

Let's have a toast for the douchebags,

Let's have a toast for the assholes,

Let's have a toast for the scumbags,

Every one of them that I know

Let's have a toast for the jerkoffs

That'll never take work off

Baby, I got a plan

Run away fast as you can”

 

 

Lá fora:

"Não posso ficar obcecado."

"Tiveste o conto de fadas e desististe."

"Sabes quando sentes que é o fim?"

"Pela primeira vez , não me deste os parabéns."

 

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Quarta-feira, 15 de Setembro de 2010

.J'y Suis Jamais Allez

 

.Ontem decidi ir a pé para o trabalho. O sol brilhava, o meu iPod tinha músicas novas, precisava de fazer exercício: ia correr tudo bem. O edifício vê-se da janela de casa, separa-nos apenas o campo de golfe. À falta de alternativas, decidi percorrer a quase-autoestrada que atravessa o Tagus Park. Vejo tanta gente a correr por ali a fora, não podia ser assim tão perigoso. Era seguro. E era de facto, excepção para os senhores automobilistas. De vez em quando ouve-se falar de pessoas aparentemente normais que se passam por alguma coisa que, aos olhos dos outros também aparentemente normais, parece insignificante. E saem as notícias sobre eles, que lemos em choque: “Parte para a violência porque a comida estava fria, porque não lhe lavaram a roupa, porque deixaram dedadas nos móveis limpos há instantes”. E eu, quando oiço um apito ou um comentário de um senhor automobilista penso sempre: “é isto que um dia me vai fazer saltar a mola”. Irrita-me de uma maneira que me transcende. E na minha cabeça sucedem-se os  títulos dos jornais: “Automobilista estrangulado em plena estrada  - Jovem de 26 anos justifica agressão com “mas ele apitou””. Ao longo das notícias lêem-se comentários de quem os conhece bem e nunca suspeitou que tal pudesse vir a acontecer. Comigo isso não vai acontecer. Porque eu aviso constantemente, só que ninguém me leva a sério. Agora terminou o que ainda não tinha começado: as idas a pé, o exercício matinal. Estou a pensar seriamente em vestir-me de verde todos os dias e tentar atravessar o campo de golfe sem ser vista. Pior do que ser apitada, é ser presa por invasão de propriedade privada. Mas por ali é que não volto a ir. Por ali não vou.

 

.Desde que me mudei do T2 com vista para a Lezíria para um T1 com uma vista que vai da Ponte 25 de Abril ao Cabo-não-sei-das-quantos com paragem pelo local de trabalho, a minha relação com os meus pais mudou. E eu compreendo. Não podem andar sempre atrás das decisões e caprichos dos filhos com um sorriso na cara. É preciso o momento do choque, da adaptação, das tréguas. Na entrada dos 26 anos continuava presa aos meus pais como se o cordão umbilical nunca tivesse sido cortado: avisava das chegadas ao trabalho, a casa, das saídas, tinha receio de lhes dizer que não ia lá no fim-de-semana, de os desiludir, de não estar à altura. A minha decisão fê-los provavelmente ver isso: afinal eu não estava à altura. E é normal que isso os tenha desiludido. À minha mãe mais ainda, que resolveu procurar atalhos em vez de dar tempo ao tempo. Houve uma espécie de corte abrupto entre nós. Numa coisa ela está certa: lá em casa, nunca estamos todos chateados ao mesmo tempo, há sempre um que defende o oprimido. E coube ao meu pai esta tarefa, a de fazer todas as coisas que ela costumava fazer. E à mana outra ainda mais difícil: sofrer os danos colaterais.

Sempre fui agarrada, mimada, insegura, com uma necessidade de pais que a mim me parecia normal, a ver a casa do Alentejo como a minha casa, o meu quarto do Alentejo como o sítio mais seguro do mundo. E a minha mãe dizia-me sempre: um dia vais perceber que tens outras pessoas por quem viver – vais continuar a gostar de nós, a querer estar connosco, a saber que aqui estás em casa, mas os fins-de-semana longe daqui não vão custar tanto, vais perceber que a tua casa está noutro lado. E eu olhava e sorria com um pensamento: “as coisas não vão mudar”.

Este corte que agora chegou talvez tenha sido necessário, talvez nos fizesse falta, talvez tenha sido o passo que faltava. Passei estes últimos anos a dizer que era crescida, e afinal estava só a tentar ser uma pessoa diferente. Crescida deve ser isto que sou agora. A L. menos dependente.

Preciso deles, claro. E não vou dizer que não custou. No fim-de-semana passado não fui lá, no próximo também não, resolvi ir lá ontem jantar. A mãe já me voltou a ligar, a chamar filhota nas mensagens, a abraçar-me ao de leve, a ficar orgulhosa com a nota final da pós-graduação. E ontem, do nada, quando me ligou a perguntar o que queria eu jantar não pude deixar de ficar feliz e de sentir que um aperto estranho saía de dentro de mim. O jantar foi estranho: como se quisessem que eu notasse que as coisas estão diferentes, mas depois se esquecessem disso e se entregassem ao momento. Dei por nós os quatro a rir como antes algumas vezes. Um antes que não foi assim há tanto tempo. Um antes que decidi que não queria mais. Por onde não vou.

 

.As coisas, as pessoas, os sentimentos, as vontades mudam. Mesmo que não se encontre lógica nisso. Eu mudo. A minha T. diz que eu não mudei, que regressei à L.. E eu sinto um bocadinho das duas coisas. Queria (poder) dizê-lo aos meus pais, ao meu mundo. Mas segura-me a rede do erro: eu sou a que falhou uma vez e pode não ter, aos olhos deles, do mundo, mais vidas para jogar. À noite (esta), no quarto com vista para o trabalho, na cama com só uma almofada, de olhos no tecto que outra menina de 5 de Julho cobriu de estrelas, agarro-me às minhas certezas. A mãe tinha razão: um dia, tudo mudou. E os fins-de-semana longe deixam de custar. E descubro onde fica a minha casa. E vivo por alguém: por mim acima de tudo. Pode parecer que dou passos apressados, inconscientes, inconsequentes, impensados. E posso vir a vê-los um dia assim - ainda que as minhas certezas de hoje me digam que não. Posso não saber para onde caminho, mas uma coisa sei. Uma que me parece importante. Por onde não vou.

 

Lá fora: "(...) anda um bocadinho saído da casca."
Quinta-feira, 24 de Junho de 2010

.Be Yourself

 

Lá fora:

"Não podes contar com o meu apoio, não posso fazê-lo. Percebes?"

"Prepare-se para a guerra, vai perder muita gente"

"Agosto, final de Agosto. Vai perceber"

"Vou esperar aqui, ela disse que vinha aqui ter"

"Que vergonha!"

"Olá."

"O teu problema é não acreditares em ti, no teu poder, na tua capacidade de suscitar paixões. Pensas que as pessoas nunca vão gostar de ti, dos defeitos que vês em ti, e limitas-te a ser tu, sem mais. E esse é um grande perigo para os que te rodeiam."

Segunda-feira, 21 de Junho de 2010

.Hoje

Hoje apanhei o comboio das 06:39. Recebemos uma delegação estrangeira e não podia mesmo arriscar-me a perder o autocarro que nos leva até ao fim do mundo. Sempre que faço este esquema, o comboio nunca se atrasa. E lá vejo chegar a Li., toda contente por ter dormido mais meia hora que eu e ainda ter conseguido apanhar o mesmo autocarro.

Tirando os minutos de sono que perco, vir mais cedo, vir num comboio diferente do normal, é sempre uma aventura. Hoje portei-me muito bem, não meti conversa com ninguém, ninguém se meteu contigo. Vim todo o caminho de olhos meio fechados, só para não pôr os óculos que – alguém me disse e repetiu – me ficam mal. Cheguei a Sete Rios muito cedo. Sentei-me no mármore por baixo do viaduto, liguei o iPod enquanto percebia uma vez mais que já tem muitas porcarias, e escondi-me atrás dos óculos de sol – aqueles que me ficam mal. Estava assim, longe do mundo, quando me apertaram com tanta força que senti os óculos a estalar. Reconheci o dono do abraço pelo cheiro: era o Sr. J., que já me levantava no ar. Foi avô. No sábado. De uma Camila com o 2,200 kg e 48 cm. Do filho, que a filha já tem 39 anos mas ainda não quis nada destas coisas. E eu fiquei tão, tão feliz que, por momentos, esqueci o meu desarranjo interior. O Sr. J. tem mulher, filhos, neta – tem família. Tinha tanto medo que ele não tivesse ninguém para cuidar dele um dia. Mas tem. Vai ter a Camila, que ontem já lhe experimentou o colo. E o cheirinho bom do abraço dele, que me levou até ao autocarro às 08:05, enquanto a Li. me piscava o olho: “dormi mais meia hora que tu e cá estou eu”. Não faz mal. Hoje foi tão bom acordar cedo.

 

Hoje, depois de me ver no espelho da Pepe, fiz uma data de promessas. Até às férias da praia, ou viro top model ou rica. Fritos: 10€, bolos/doces: 15€, gelados: 5€, enchidos: 10€, directamente para uma caixa especial, criada para o efeito. Muito a sério. Mas isto é só a partir de amanhã, porque a mãe ligou à tarde, vêm trazer a mana a Santarém e trazem também um cozido para jantar aqui comigo. Sim, dieta, tem mesmo de ser. Mas hoje não. Amanhã.

 

Lá fora:

"O que querias? Loucuras?"

"100 vezes, e não me atrasava tanto"

"Levo-te a Andorra para comprares uns óculos novos, uns Dolce & Gabbana espelhados"

Segunda-feira, 31 de Maio de 2010

.E o que eu estou viciada nisto...?

Conquistaram-me com a ida à América e o roubo da lua.  Gosto tanto de romantismo com palavras simples, as minhas preferidas.

 

 

 

Lá fora: “I knew when we collided  / You're the one I have decided / Who's one of my kind”

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Quarta-feira, 7 de Abril de 2010

.A pé

 

Ontem à tarde, depois do An. sair do comboio, pensei que ia dormir o resto da viagem. Foi quando reparei que o sr. J. se tinha sentado ao meu lado. Boa tarde. Olá. Desculpe lá perguntar-lhe, mas a menina não é de cá, pois não? Não a vejo por aqui assim há tanto tempo. E conversámos. Sobre o Alentejo, a segunda-feira de Páscoa que eu não gozei e os anos do avô X., que ontem comemorava 75 anos. E ele falou do trabalho, que já pesa, dos filhos, que não arranjam namoradas, e contou-me coisas da Lezíria. E depois fomos os dois a pé, que o bom tempo já convida a isso, até ao Intermarché. Eu comprei o pão, ele encontrou o filho. É pena já ser comprometida, que era bom partido para minha nora, com essa cara e essa conversa, vinha mesmo a calhar. E eu ri-me muito, e lá lhe confessei que só o acho com ar de avô, nada mais que isso. Combinámos partilhar o comboio mais vezes. Ou fazer estas caminhadas a pé.

 

Ontem adormeci no sofá. Nestes últimos dias dormi uma média de 5 horas por noite, e o meu corpo só pedia descanso. Caí no sofá às 22h15, depois de falar com os pais. Acordei às tantas, com uma birra por ainda ali estar àquela hora, com luz, com televisão. Passei para a cama sem tempo de deixar as coisas arranjadas. Foi por isso que hoje saí de casa atrasada. Do carro nem sinal, que tinha ficado estacionado lá na estação. E os saltos nos pés não ajudavam à caminhada. Ainda assim, saí decidida a fazer uma corrida de 1km no tempo suficiente para apanhar o comboio. Tinha andando com este propósito uns 100 metros, quando o carro de um vizinho parou ao meu lado. Não leve a mal, mas vou para o lado da estação, quer boleia? E eu nem pensei duas vezes, que sim, agradeço, que hoje estou mesmo atrasada. E só quando entrei no carro a voz da minha mãe deu sinal: “L.S., mas tu conheces o vizinho de algum lado? E se te faz mal? Mas tu não pensas? Não mudas?”. Depois de pensar no assunto, fiquei um bocadinho envergonhada por ter aceite a boleia inesperada. Desliguei o volume dos pensamentos e fiz conversa. Então é vizinho de que andar? Pois, com este tempo nunca sabemos que roupa vestir. Sim, para Lisboa. Pois, andar a pé faz bem. E foi assim até à estação, onde ele fez realmente um desvio e me deixou. Só quando saí do carro, depois de um obrigado rápido, percebi que não sabia o nome dele nem lhe tinha olhado bem para a cara. Assim não lhe vou poder agradecer um dia como deve de ser. Sei que mora no primeiro andar, mas desde que temos elevador no prédio, confesso, deixei de usar as escadas, por isso vai ser difícil apanhá-lo. Caramba, vou a pé para a estação e para casa, mas depois apanho o elevador. E subi as escadas da estação a sorrir, enquanto pensava nisso.

 

Já tinha reparado nele algumas vezes. Um puto giro, ao estilo do meu primo F., com umas pestanas gigantes, calças largas e um gorro-boné. Entra no comboio também logo ao início, e sai antes do An. e da Li. me fazerem companhia. Costuma sentar-se perto de mim, mas naquele que eu acho o pior lugar: de costas, longe da janela; do lado oposto do meu: de frente, ao lado da janela. Senta-se, atira os pés para o banco ao lado do meu, e liga o leitor de mp3 para níveis que conseguem ultrapassar os do meu iPod. Hoje, foi quase tudo igual. Mas ao tirar o leitor da mochila, que nunca sai do colo dele, tirou também uma lata de Cola e um pacote de bolachas com recheio de chocolate. E eu não pude deixar de fazer um meio sorriso, quase reprovador, por ver aquele banquete antes das sete da manhã. Não devo ter sido discreta, porque ele atirou-me um – És servida?. E eu sorri, enquanto tirava uma do pacote e agradecia. Vou guardar para logo, disse-lhe. – Então tu és a miúda das boinas giras. Sou? Não sabia. Até podem ser giras, eu é que não sou miúda. Quantos tens? 25. Ena, tens mais, espera, tens mais 7 anos que eu, pensava que eras da minha idade. E conversámos sobre a viagem de finalistas e os exames nacionais, as boinas e as músicas do iPod, as miúdas e a Primavera, até à hora de ele partir. Dividimos bolachas amanhã? Estou de dieta! Experimenta andar a pé, gritou-me ele da porta. E voltei a ligar a música, enquanto esperava a próxima estação, a Li. e o An., que nos tem abandonado muitas vezes nos últimos tempos.

Lá fora: "How much longer will it take to cure this"

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