Não estou a começar o ano da melhor maneira. Hoje, para ajudar, tive um acidente. Não me querendo alongar sobre o acidente em si, queria apenas dizer que nunca me tinham feito sentir tão burra, tão incompetente, tão miserável. Tudo isto feito por um senhor agente da autoridade. Senti-me triste, pequenina, com vergonha. Somos todos pessoas, todos erramos, eu errei, mas não se pode errar assim quando se veste uma farda daquelas. Ainda há uns dias, numa entrevista para um curso, me perguntavam se nestes anos de serviço nunca perdi a calma com ninguém. E não, nunca perdi. Tento sempre ajudar, manter a calma. Foi o que fiz hoje. Tentei manter sempre a calma, responder a tudo, ser simpática e prestável. Mas um dia tenho de deixar de ser assim, cada vez mais me convenço disso – não vou longe. Não se pode humilhar assim ninguém. Até a carta tapou para ver se eu dizia a morada fiscal igual. Tudo tão triste. No final, mesmo antes de me vir embora, tendo em conta que me tinha dito que eu tinha cometido uma infração com multa de 120€ e inibição de conduzir, e até já se tinha despedido, dirigi-me a ele e perguntei como fazia para pagar a multa. Resposta: “Vou pensar se lhe mando a multa para casa ou não”. E é isto. Agora vou ficar a aguardar. Para ver se lhe apetece multar-me ou não. E nem com o senhor do outro carro tive sorte. Eu que até estava com pena porque ele disse que era viúvo, e estava desempregado, e num carro emprestado. Apertei-lhe a mão, desejei-lhe um bom dia. Resposta: “Vá mas é almoçar que a falta de atenção deve ser da falta de comida no estômago”. Engoli em seco, uma vez mais, sorri e entrei no carro. Tenho tanto a aprender ainda com a vida.
Nunca fui uma rapariga de reclamações, em toda a minha vida devo ter feito duas – e até contei a história por aqui. Tantas vezes guardo para mim aquilo que penso que se tornou um hábito, uma forma de ser. Outras vezes resolvo falar e corre mal, como ontem (que raio de semana esta!), mas hoje tenho uma história com um final semi-feliz. Quando soube que estava grávida lembrei-me que ainda não me tinha mudado para o centro de saúde do sítio onde moro agora. Estava registada na terrinha e por lá continuei, apesar de ter mudado todas as outras coisas. Mandei email para as duas unidades de saúde locais e recebi um telefonema de volta, das duas, que lamentavam muito mas não aceitavam inscrições há quatro anos, nem naquela modalidade de ficar sem médico associado. Passei-me, nem queria acreditar. E as hormonas aos saltos, e o sangue que aumenta de volume a ferver, e saiu uma reclamação. Ministério da Saúde, Unidades de Saúde, Direção Geral de Saúde, não sei quê de Saúde de Lisboa e de Sintra. Passados uns dias recebi um telefonema de uma das Unidades. Que não sabiam bem o que se passava, mas que tinham ordem do Diretor para me ligar e pedir os meus documentos para procederem à inscrição. Fui lá a primeira vez – e o pai da criança, não se quer registar? Quer pois, voltei lá uma segunda vez com os documentos dos dois – vê aquela pilha? Estão todos à sua frente, vai ter de esperar. E o curso de gravidez? Gostava de frequentar, aqui é gratuito – pois menina, nasce a criança e você ainda não está inscrita, vá onde está registada. Ai é no Alentejo? A 100km? Pois, não sei, vá ver nas terras vizinhas. Passei-me de vez. Não queria passar à frente de ninguém, queria que todas aquelas pessoas estivessem inscritas. Isto faz sentido? Vivemos num país, de acordo com as leis e regras que nos impõem, pagamos impostos, todos os impostos, e não temos direito a aceder a cuidados de saúde / médicos no local de residência? Felizmente, tenho possibilidade de pagar um seguro de saúde e estava já a ser acompanhada num hospital privado, e quem não pode fazê-lo? Quantas daquelas pessoas não o podem fazer? Saiu nova reclamação, um bocadinho mais agressiva sem ser mal-educada, que também já respondi a algumas no trabalho e sei como é mau. E fui fazendo a minha vida. Hoje recebi um telefonema de uma das Unidades de Saúde. Que não só estou inscrita como até tenho médica de família. Queriam confirmar se deviam mudar todo o meu agregado familiar comigo – os meus pais e a minha irmã. De repente, surgiram quatro vagas, com médico e tudo, e passei à frente de uma longa lista de gente. E devia estar feliz, pois devia, mas não deixo de estar preocupada com os que não pensaram nisso ou não têm possibilidade de se fazer ouvir. Eu não sou ninguém neste país, nesta terra, nem no meu prédio (apesar de ser gestora de condomínio nem sequer posso mandar pintar o prédio porque não há dinheiro), e vá lá na minha casa ter um poder de voto de 50%. Mas reclamei e deu resultado. Vamos começar todos a fazer o mesmo?
Em dias assim, de apertos, resta-me* animar com as palavras de quem não conheço. Dei-lhe apenas uma resposta muito pequenina e simples, entre tantas outras. Penso eu. Às vezes, mesmo sem notarmos, em pequenas escolhas, temos a vida dos outros nas nossas mãos. Fazemos também o papel de Deus. Interpretamos as urgências à nossa medida, tantas vezes sem a verdadeira noção daquilo que se passa. Vendo as coisas assim, talvez tenha já sido má com tanta gente. Mas hoje, ao ler isto, hoje sabe-me bem saber que também está nas minhas mãos fazer alguém feliz.
“Não tenho palavras para agradecer a atenção e colaboração, resta-me apenas aplaudir o empenho, e a capacidade de resposta atempadamente. O meu muito obrigado, tenham a certeza que um dia eu serei testemunho de que existem pessoas bondosas, capacitadas e qualificadas, motivo pelo qual sinto orgulho dessa equipa que de outro lado está a fazer um excelente trabalho.
Boa noite, continuação de uma boa semana e muita saúde e felicidades na vida,
X”
*Mentira. Também houve coisas boas: piquenique na relva com as amigas ao almoço, acompanhar a mana à primeira entrevista pós-curso e saber que posso sempre contar com o Z..
Tenho a terrível tendência de ver apenas o buraco no mesmo sítio onde todos os outros conseguem ver um donut. Esta é a melhor expressão que encontro para definir aquilo a que costumam chamar pessimismo, eu que só provei um donuts na casa dos 20 anos e nem sequer gostei. Procuro esperar sempre o pior das coisas, o que acho bem melhor do que ser apanhada desprevenida (como tantas vezes). Pergunto-me se sempre fui assim, e quase tenho a certeza que não. Pensando melhor, consigo ver na minha cabeça os dias, os momentos em que acontecimentos que poderiam ser insignificantes me foram tornando assim. As chamadas lições. Deixo de lado, como quando estou doente e deixo de gostar do que comi naquele dia, as roupas que usei nesses instantes, não sejam elas as culpadas de tudo o que acontece. O importante é encontrar um culpado para todos os males, saber quem deixou afinal um buraco no bolo que poderia ser perfeito. E para não deixar de lado aqueles de quem gosto e me magoam, vou atirando com as roupas para o fundo do armário. Bem mais fácil. Não poderiam ensinar-nos a viver apenas em livros e em filmes? Há mesmo necessidade de passar pelas coisas para aprender? Eu, contra todos os argumentos que me vão apresentando, acho que não. E não quero mais. Há que brigar por uns trocos, ofender por coisa nenhuma, magoar sem sentido, trair sem desculpa, estragar o que existe por um qualquer capricho? Há coisas pelas quais ninguém devia passar, nunca. Por isso, hoje, cheguei a uma conclusão. Chega de culpar o que não tem culpa, de fingir que não aconteceu, de tentar passar por cima depois do mal estar feito. Que pensem nele antes de o praticarem, porque já não tenho vontade de ignorar. Os cortes, como tudo o que é definitivo, assustam-me. Mas recuso-me a permanecer numa órbita sem sentido, em que aquilo que nos une, a mim e aos que me rodeiam, afinal não existe, ou só um dos lados consegue vê-lo. Se não existe, eu vou passar a conseguir vê-lo. Ou não tivesse eu esta tendência para ver apenas os buracos, o que falta. Será assim em tudo. Olho por cima do ombro para os últimos dias e não gosto de nada. E oiço quem me diga “então e isto? e aquilo? e o outro? Não sejas injusta!”. Mas eu sou assim, se uma coisa está mal, então eu estou mal. Se muitas estão mal, então o meu mundo também está. Que raio de teoria, dirão alguns. Mas tenho desculpa, digo de mim para mim. É que eu sou apenas a rapariga que vê o buraco onde todos os outros vêem um donut. E nem sequer gosta de comer aquilo que afinal existe.
Hoje recebi isto, e não pude deixar de me sentir bem. Estou ligeiramente convencida, mas já passa.
"Já chegou a (…), graças a Deus e a ti que se prontificou em resolver meu problema o mais rápido possível. Obrigada mesmo, de coração! Sei que deve estar a pensar só fiz o meu trabalho. Pense. nem sempre as coisas correm dessa maneira. Há muitos por ai que não fazem nem 1/3, não estão nem aí para os problemas dos outros. Já não mais ocupando o seu tempo, quero lhe dizer que a partir de hoje você vai estar em minhas orações diárias... que Deus lhe dê sabedoria para agir no seu dia a dia, no seu falar, no seu agir, que Deus coloque palavras sábias na sua boca, na sua escrita, no seu pensar. Que Deus lhe dê muita saúde e que esteja sempre lhe guiando para o bem. São pessoas como você que fazem o país crescer, você sabe fazer a diferença, não é só mais uma soma."
Eu e os telemóveis temos muitas histórias juntos. Por norma, acabam debaixo de um carro, ou caem da mesa-de-cabeceira mas ficam como se tivessem sido atropelados, ou começam a fazer coisas estranhas, ou partem-se mal saem da caixa, ou sei lá. Já tive tantos, com tantos finais diferentes, que lhes perco a conta. E eu sou uma pessoa que estima as coisas, se não fosse não sei como seria. Por norma, tenho sido fã da Nokia, mas fiz uma promessa, daquelas tontas, não me costuma dar para isto, que quando avariasse ia comprar um iPhone. E, no início de Dezembro, sem motivo conhecido, o ecrã do meu telemóvel começou a ficar às riscas, uma vez, depois outra e mais outra. E de todas estas vezes eu tinha de o desligar e voltar a ligar, e pedir-lhe para não avariar, porque olha a minha promessa, e as contas, e a casa, e a crise, e a Troika, e mais não sei quantas coisas. Mas ele não me ouviu e avariou de vez no dia em que a Optimus me mandou um mail a dizer que aceitava reservas para o iPhone 4s. Era um sinal, o destino, convenci-me. O pior foi ter assinalado que queria comprar através do programa de pontos, e nunca mais me diziam nada, e o telemóvel avariado, e já toda a gente com o iPhone novo, e eu sem nada. Numa ida ao Colombo resolvi passar na loja e só tinham um, por acaso, porque uma pessoa tinha desistido da reserva, mas era branco e de 16Gb. Era mesmo o que eu queria. E foi assim que cometi a loucura de uma vida e passei a ser uma iPessoa.
Tenho uma vizinha no piso de cima que está a acabar, mesmo, comigo. A senhora acorda todos os dias entre as 06:30 e as 07:30 e a primeira coisa que faz é calçar os saltos altos. Corre a casa toda com os malditos sapatos e ainda se dá ao luxo de fazer sprints sempre que se esquece de alguma coisa. Consigo dizer, com toda a precisão, em que divisão da casa está. Pior ainda, se é que isso é possível, é que não a oiço só àquela hora. Sempre que está em casa – não sei como consegue, lá anda a mulher de saltos altos. SEMPRE. No sábado acordou-nos às 07:10 e à meia-noite, quando chegou a casa. No domingo acordou-nos às 07:28, ontem voltou a acordar-nos de manhã e à meia-noite, até que batemos com a vassoura no tecto e ela lá percebeu que devia descalçar-se. Se estamos a ter uma conversa séria e a senhora entra em casa, o meu cérebro pára, não consigo continuar. Os saltos martelam no chão e sinto-os a bater na minha cabeça. Fico com vontade de bater em alguém, transformo-me. Eu queria ir lá bater-lhe à porta, mas há várias coisas a segurarem-me: primeiro, porque leio o Correio da Manhã todos os dias e sei que se matam pessoas por coisas bem mais pequeninas; segundo, porque a minha mãe não deixa, agora que vamos sair dali não vale a pena arranjar problemas, e as mães têm sempre razão; terceiro, porque ela pode ser maior do que eu. Mas o plano já está traçado, vou escrever-lhe uma carta bem bonita, a explicar-lhe que nem todos temos o mesmo horário, que os saltos fazem mal à coluna e aos derrames, que gosto de acordar com o despertador, que uma vez acontece mas muitas são falta de respeito, e que vou embora, felizmente para um último andar, mas agradeço que se porte bem com os próximos inquilinos, e vou deixá-la à porta de casa dela, juntamente com um par de chinelos e uma cópia da lei do ruído. Não sei se vai perceber, porque uma pessoa que faz o que ela faz todos os dias só pode ser muito ignorante. Mas isto digo eu, que ando irritada.
Estou de tal maneira irritada com a senhora do 5ºC que já a oiço mesmo quando ela não está. Hoje acordei um bocadinho antes dela, já a sonhar com o momento em que os sapatos começariam a correr a casa toda. Ela saiu, o Z. saiu, e, depois, quem é que me fazia dormir outra vez? Recorri ao meu iPhone. Desde que o tenho estou ainda mais viciada no telemóvel, e faço tudo o que posso com ele. Até me tenho dedicado mais a coisas que ainda me passavam um bocadinho ao lado, como as redes sociais. Tiro fotos em todo o lado e vá de publicar. Abdiquei do meu iPod, pobrezito, mas ele compreende o meu fascínio por este novo amor. Só de fotografia já tenho três pastas cheias de aplicações. Mas tenho outras, umas normais, outras mais estranhas, como programas que emitem barulhos capazes de afastar mosquitos. Tenho uma, a “Magic Sleep”, que tem um céu estrelado, ovelhinhas a saltar e uma música que simula o batimento cardíaco para, supostamente, ajudar a adormecer – nem recomendam que se oiça aquilo no carro. E hoje recorri a ela. Só tenho a versão gratuita, de dez minutos, mas posso garantir que deu resultado, porque não me lembro do momento em que terminou. Tudo isto para chegar a uma conclusão: ando irritada, com insónias, à conta da vizinha ignorante, mas tudo podia ser muito mais difícil se não tivesse o meu iPhone. Há loucuras que vêm por bem, digo eu a tentar convencer-me. Ter-me tornado uma iPessoa só pode ser uma dessas boas.
Não sou uma pessoa com um grande amor pelos animais. Sou incapaz de os maltratar mas, se puder, dou uma volta enorme para não me cruzar com eles. Como em tudo na vida, claro que há excepções. Também eu tive coelhinhos, pintainhos, porcos da Índia, bichos-da-seda, um esquilo (que histórias tivemos com o Cajó!) e talvez outros que agora não me lembro. E cães e gatos. Gostava mesmo deles, mas quando morriam, atropelados, envenenados, de males vários, o processo de luto era tão penoso que percebi que o melhor era não tê-los, esta seria a única maneira de não sofrer. E depois houve aquele susto com o pastor alemão igual ao Rex, logo comigo que vi todos os episódios e chorei com as perdas dele, que me tentou morder quando eu tinha uns seis anos. Não me acertou, mas apanhou o braço da avó, que me tentava defender, e que nunca mais voltou a ser o mesmo. Nem eu. A partir dai, nada de cães e gatos na minha vida. Claro que sempre houve um ou outro que me conseguiu conquistar. O Scotty do meu pai, e a bicharada toda que existe no monte do Z.. E até lhes pego ao colo e deixo que se aninhem aos meus pés perto do lume. Só não tenho muita intimidade com a cadelita Duda porque ela come ratos. Já a vi comer um enorme e deitá-lo fora logo depois, mesmo à nossa frente, por se ter engasgado com o rabo. Não foi bonito. Com a minha irmã a história é diferente, é a maior defensora dos animais em geral e dos cães em particular. Deixassem os meus pais e todas as noites os cães estariam lá em casa, de preferência no quarto dela. Foi por isso que quando me começou a falar dos dois pequenotes que a Borboleta tinha trazido ao mundo não lhe liguei muito, era uma obsessão como todas as outras anteriores. Chegámos a discutir à mesa porque ela queria levar-me a vê-los e eu achava melhor gastar o meu tempo com a família que vejo tão poucas vezes. No feriado lá me convenceu e levou-me a conhecer as duas mascotes lá de casa. Os dois cãezitos são mesmo especiais e giros – sem querer ofender a mãe, devem sair ao pai, que não sabemos quem é, porque dela não têm nada. E qualquer coisa mudou. Andei com eles ao colo, demos beijinhos à esquimó, deixei-os roer os atacadores das botas novas e sujar um dos meus casacos preferidos, dei-lhes comida à boca e até me fui despedir deles com a lagrimita no olho, de acordo com o estatuto de novos membros da família. O pior foi escolher os nomes. Rimos, discutimos e lá chegámos a uma conclusão depois de muita luta. A única exigência do pai era que o lourinho fosse 'Leão', e é verdade que ele tem porte, pose e comportamento de rei (as birras que apanha quando ralhamos com ele por morder o mano são de mais), masas mulheres da casa queriam uma coisa diferente. Decidir a quatro não foi fácil - não queríamos nomes de pessoas, os apelidos de pessoas da terra também não ajudavam e somos todos muito diferentes. E o que rimos com a mãe que há uns tempos atrás nem mexia em computadores quando se saiu com "e se procurássemos na net?", e leu todas as sugestões estranhas de sites brasileiros sem sucesso. Foi no jogo do Sporting que encontrámos o nome final – depois de gostarmos as três só tivemos de convencer o pai. A mana estava num sítio do estádio com a mãe, eu noutro com o Z. e o pai ainda noutro sítio diferente. Quando entrou a nova mascote no relvado pensei que era mesmo aquilo, e a mana pensou o mesmo porque quando estava a escrever-lhe uma mensagem chegou a dela com a mesma ideia. A mãe aprovou e o pai foi um bocadinho forçado, mas ficou convencido. E assim baptizámos um de Jubas, a fera birrenta, e o outro de Ruca, que só pensa em morder calças e atacadores e foge das fotografias. Dou por mim a pensar neles muitas vezes e percebo que mudou mesmo qualquer coisa. Tenho saudades, preocupações, pergunto por eles nos telefonemas para casa, quero estar com eles o mais depressa possível, gostava de trazê-los comigo para Lisboa e fico com o coração apertadinho só de pensar que lhes pode acontecer alguma coisa enquanto estou longe. O Z. já tinha insinuado e eu não queria admitir, mas os sintomas são óbvios e chegou a hora de assumir. Estou apaixonada. Mas, vendo bem, quem não ficaria?
O meu carro (batido) tinha umas colunas com vida própria. Sempre que passava num buraco ou numa lomba uma delas deixava de funcionar e outra ganhava vida. Quando o Z. tentou arranjar (ele consegue, mas sobram sempre peças), teve de cortar um dos fios e foi logo o da memória. O meu rádio deixou de memorizar postos e cada viagem é uma aventura e um desafio até encontrar uma música ou uma estação que agrade. Hoje, já estava a chegar a casa, apanhei a Star e começou a dar uma música que normalmente me faz rir, dançar e pensar em coisas boas. Hoje, sei lá porquê, fez-me qualquer coisa estranha e comecei a chorar desalmadamente. Pensava em mim, pensava na Di. e no Nu., que sem se saber muito bem como perderam a mãe de um dia para o outro, pensava nos meus pais – entrei às dez e saí às sete e tal de rastos quando eles terminaram o dia depois de mim e às cinco da manhã já o tinham começado, sei lá. Foi tudo. E foi a música. A do rádio do meu carro batido, que já não tem colunas com vida própria, mas ainda me consegue surpreender.
. .Hoje
. .Hoje
. .Coisas doces (ou nem tan...
. .i (de iPhone, iPessoa, i...
. .Pessoas
. .Só