(este texto contém spoilers - sempre quis dizer isto)
Nos últimos dias comecei quatro posts que terminaram na Reciclagem. Alguns já depois de escritos, lidos, reformulados. Apaguei-os sem pensar duas vezes. Tenho preferido apoderar-me das palavras dos outros para dizer o que me vai na alma. Mas as minhas palavras continuam cá dentro, agarradas ao que penso, ao que sinto, porque, ao contrário do filme que finalmente vi no domingo, somos obrigados a carregar com tudo, sem oportunidade de apagar o que quer que seja (e valeria a pena?). Na hora de decidir, seguimos em frente conscientes de todos os antes acumulados.
“Tudo tem uma razão de ser – não acreditas no destino?”, responde-me a So. na nossa viagem de quatro horas. Terminei de ver o filme com as palavras dela a ecoarem na minha cabeça. De todas as personagens a quem é dada uma segunda oportunidade, todas voltam a encontrar o que um dia tentaram esquecer. Estaremos todos irremediavelmente destinados a qualquer coisa? Sabendo nós o que correu mal, o que nos fez querer seguir em frente, podemos voltar a desejar o passado? Guardamos na alma detalhes suficientes para voltarmos ao que já sentimos um dia? Conhecer os nossos erros é a melhor solução para não voltar a cometê-los?
Já me tinham falado várias vezes do filme. “Tu, que gostas de filmes estranhos, vais passar-te com isto”, “Tu, que vês sinais em todo o lado, vais ficar a pensar naquilo a vida toda”, “Tu tens que ver isto porque preciso que alguém o discuta comigo”. E eu, que gosto de filmes esquisitos, passei-me com aquilo. Eu, que vejo sinais em todo o lado, continuo agora a ver as cenas a desenrolarem-se na minha cabeça. Eu precisava mesmo de escrever sobre isto.
No final, sabendo tudo, depois de tudo esquecer, temos sempre duas opções, diz-nos o filme. Agarramos em todas as nossas falhas passadas e tentamos fazer-nos ao mesmo caminho de antes, atentos aos erros de outros dias; ou arrumamos as tralhas na mala e procuramos outro rumo, sabendo que um dia o outro não nos serviu e que quisemos simplesmente eliminá-lo. A minha começa a desenhar-se.
* Obrigada pela partilha. Do filme, do sofá, do dia, de ti.
Lá fora:
“Blessed are the forgetful: for they get the better even of their blunders.”, Friedrich Nietzsche
É um dos filmes da minha vida. Não sei. Talvez seja da história. Da música. Da dança. Das letras. Identificação? Não. Só com esta. A do Amos.
Mr. Cellophane
"Olhei para a frente e não havia surpresas... Era bom, mas sempre igual."
Terminamos a faculdade, conseguimos o emprego que queremos, estamos com a pessoa certa e olhamos para o futuro: os dias sempre iguais. Como resistir a um pequeno fôlego nas nossas vidas? Como tornar cada dia suficientemente diferente e entusiasmante para resistir à brisa que às vezes sopra...? Eu já aprendi! ;)
Ontem fui ao cinema ver "Music and Lyrics" e sai de lá com um sorriso na cara. Ando numa de filmes light... Quando escolho um livro ou um filme é também porque quero viver outras vidas, outras histórias... Para triste e com final incerto basta a nossa própria história. Amor, humor e um final feliz em boa companhia. Há melhores ingredientes para esquecer a rotina diária? :)
Para sonhar e chorar também... Sem a fantasia, a realidade é apenas um lugar sombrio. ["A princesa reinou com justiça e bondade por muitos e muitos séculos. E a presença dela continua, mas só para os que sabem olhar"].
"E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
. .Eternal Sunshine of the ...
. .Chicago
. A compôr a música da minh...