Sexta-feira, 20 de Novembro de 2015

.Hoje morreu um homem bom

Hoje morreu um homem bom. Um homem de quem gosto muito e que sei que também gostava de mim (e da minha pequenita). Obrigada: pelos passeios que demos com o avô Chico, pelos pés descalços na sua horta, pelo colo que me dava enquanto eu comia arroz doce. Tenho saudades de o ver chegar todos os dias do trabalho, de o ver parar a carrinha ao lado da minha casa, e abrir o portão. Esta é a imagem que vou guardar – o aceno de mão na boina, o sorriso meigo. Foi consigo que aprendi a registar tudo o que se passa para nunca esquecer. Quis o destino, ou sei lá o quê, que, quase no fim, acabasse por esquecer tudo. Por aqui fica a lembrança e a saudade. Hoje morreu um homem bom – o vizinho António Rita.

L. às 13:53
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Quarta-feira, 6 de Maio de 2015

.I'm sixteen going on seventeen

Este último mês foi aquele em que te vi mudar mais. Tantas coisas novas nos 16 meses! De repente, já tens 4 dentes a caminho (e que grandes são os de cima!) e já andas. E se andas. Ainda ontem tive de correr a casa toda para tentar perceber onde te tinhas escondido. Ou fui dar com uma vela enorme na tua mochila, já na escola, que foste buscar a um dos quartos e escondeste ali. De repente, a minha bebé pequenina já não pára no sítio. E também já não é assim tão pequenina. Começaste a andar no meu Alentejo e eu estava lá para ver. Chorei por isso – tenho tanto medo de perder bocadinhos importantes da tua vida, mas este não perdi – eu estava lá. Tínhamos chegado da festa de ano de um amiguinho e estávamos na brincadeira, vai à mãe, vai ao pai, vai aos avós. E de repente lá estavas tu, ainda muito abanica, de braços esticados para manter o equilíbrio, a fazer aquele pequeno trajeto sem estares agarrada a lado nenhum. E tem sido tão bom ver a tua evolução – primeiro só te largavas de pessoas para pessoas, depois de pessoas para coisas (mas olhavas para tudo muito bem, porque podias ter de fazer uma paragem a meio do caminho), de onde descias de gatas ou chamavas para te irmos buscar, depois de coisas para coisas e agora de tudo para tudo, ou do nada, se te largarmos, para nada, porque andas por ali a passear. E ficas parada muito tempo a estudar o próximo destino. Continuas mimosa, a ir a todos os colos, a dar beijos a toda a gente, ou a mandá-los enquanto dizes adeus a todos os carros que passam. Mas também já te vimos levantar a mão a uma ou duas pessoas quando estás muito cansada ou com sono. Já sabes imitar o cão, o gato, a vaca, o pato, o burro, a ovelha, o porco, a abelha e é tão bom ver-te a fazê-lo. Quando te perguntamos como faz o cavalo começas aos pulos – a culpa é nossa (mais da avó), que pega no teu cavalo de pau e anda contigo pela casa enquanto faz “upa, cavalinho”. Abanas as mãozinhas para mostrar como faz a borboleta, e mandas um quase beijinho para imitar os peixes. Para além de os saberes imitar, adoras ver animais e mexer-lhes, sem medo nenhum. E és uma sortuda porque no Alentejo do papá tens muitos e diferentes, que te deixam tão feliz. Já dizes “mamã” (fico de coração apertadinho sempre que ouço), o papá é “tatá”, “ága” (água), a maminha é “nana” (é delicioso ver-te pedir: puxas-me a camisola, apontas e dizes “nana”. Pergunto-te se queres maminha e tu abanas a cabeça para dizer que sim). Depois vais dizendo outras coisas, mas só quando te apetece: o “ca” serve para tantas coisas, ‘cavalo’, ‘caiu’, ‘cão’; o pé é “da”, o pão é “ta”. O "já-tá" dá para quando o elevador pára, para quando estacionamos ou paramos o carro num semáforo (tiras a chupeta para o dizeres a toda a velocidade com um grande sorriso e voltas a metê-la na boca), para quando a comida acaba ou quando queres que acabe!  Sabes dizer onde estão os olhos, o nariz, a boca, as orelhas, os dentes, o cabelo, as maminhas e a barriga. Sabes mostrar a língua e piscar os olhos (esta até foi uma das tuas primeiras gracinhas). Ainda não percebes que é teu o rosto que aparece no espelho, mas adoras ficar em frente a um a dizer olá, a fazer adeus e a mandar beijinhos - a menina que aparece é muito simpática, porque te responde sempre. De repente, passaste a comer muito bem. A sopa vai toda, o inteirinho na escola também, em casa gostas de provar de tudo: no outro dia, antes do jantar, comeste fiambre, um maracujá, salmão, depois comeste a tua sopa e no final ainda provaste a nossa comida. Adoras comer pão de cereais comigo, de manhã e à tarde. Se tiver fiambre, é muito bom, se tiver manteiga de amendoim, fazes questão de a lamber toda e deixar o pão para mim. Mas o que é certo num dia no outro já não é: tanto adoras laranja ou morangos como detestas no dia a seguir. Provas tudo, já é um grande passo para quem mandava tudo fora. Depois de umas idas ao Alentejo e de um período em que andaste mais doente, começaste a dormir na nossa cama. O pai vai reclamando, eu confesso que adoro ter-te ali à mão de semear para um miminho e não ter de me levantar para te dar mama. Eu e o pai também dormimos na cama dos avós até tarde, e não temos problemas de independência ou desenvolvimento (ah, ah, ah, digo eu!), e não conheço ninguém que já anda na universidade e ainda durma na cama dos pais - temos tempo. Continuas a mamar (sim!) de manhã, à tarde e à noite. E vai ser assim até querermos as duas, sem fanatismos nem exageros. Já não gostas de trocar a fralda – levamos uma eternidade para conseguir meter-te uma lavada, porque passas o tempo a rodar para um lado e para o outro. Agora tenho feito por te dar banho logo quando chegas da escola, para depois estarmos mais livres à noite com o papá, e é tão bom ver-te brincar com os patinhos e os peixinhos sem horas contadas. Adoras cantar – e já damos por nós a reconhecer músicas que vais ‘cantando’; e dançar – basta ouvires uma música para começares a mexer-te. Continuas a adorar os teus livrinhos e é tão bom ver-te a lê-los – vais mexendo o dedinho por cima das letras e fazes a tua conversinha enquanto vais mudando a entoação – tenho de me rir sempre. Gostas de comandos (já sabes tirar a pecinha de trás para tirar as pilhas), telefones, computadores, fotografias, baldes e esfregonas. Mais importante que tudo isto, gostas de nós e fazes questão de o mostrar com um monte de mimos (ainda ontem me fizeste “ácá mamã” e depois deste-me um beijinho) e de o dizer. Eu e o pai ficamos deliciados quando, em qualquer lado, apontas para nós enquanto olhas para as pessoas e vais explicando, com orgulho, que ali estão a “mamã” e o “tatá”. O orgulho é nosso, pequena Aurora. E também fazemos questão de o gritar ao mundo: esta é a nossa filha.

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Quarta-feira, 1 de Abril de 2015

.O nosso ovo

Quando a Aurora estava na minha barriga, e porque ela me mandou ao tapete muito cedo, conversávamos muito. Sobre muitas coisas. Lembro-me de lhe falar sobre a escola e os trabalhos manuais. Para que se mentalizasse que a mãe que lhe tinha calhado em sorte não tinha jeito nenhum para essas coisas. Nem um bocadinho. Mas que não desanimasse, ia ter uma madrinha e avó talentosas, que nos ajudariam por certo. Ela nasceu, veio a escola e os pedidos de colaborações aos pais. E, ainda que continue a ter a certeza que o jeito é muito próximo de zero, nunca senti vontade de passar a tarefa a alguém. A mãe sou eu. É a mim que me estão a pedir. E eu quero muito estar à altura de tudo o que diz respeito à minha filha. E talvez assim ela comece a aprender que podemos não ser sempre os melhores (não digas isto ao avó João, que espera sempre o melhor de nós em tudo), mas que o importante é participar - tenho quase a certeza que também falámos sobre isto ainda antes de nos conhecermos.

[Este é o nosso ovo da Páscoa. Foi tão bom ver uma parede enorme cheia de ovos, todos tão diferentes, todos tão cheios de bocadinhos de quem os fez.]

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L. às 11:18
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Terça-feira, 3 de Fevereiro de 2015

.A pior do mundo

No sábado, quando íamos dormir, recebi uma mensagem da minha avó. Dizia qualquer coisa como “Falei com a mana e ela disse-me que a pequenita entalou a mão no elevador da escola e meteu a mão na sopa quente”. Olhei para ela, estava bem, tão serena, a dormir, mas não consegui deixar de me sentir a pior mãe do mundo. Aquela mensagem era digna de Segurança Social. E era tudo verdade. E aconteceu tudo comigo. Na quinta feira fui buscá-la ao colégio como faço todos os dias. Subi pelas escadas, soube as novidades do dia, e depois desci pelo elevador com ela e fiz o mesmo de todos os dias: li-lhe a ementa, deixei que ela mexesse nos botões, e no exato momento em que o elevador estava a abrir e eu já com um pé de fora, ela resolveu meter a mão entre as duas metades do elevador que encaixavam uma na outra. Só ouvi o barulho dela a tirar a mão e depois começou a chorar, muito, e a gritar. E passou-me tudo pela cabeça. Que tinha partido os dedos, a mão, eu sei lá. A Dona S. ajudou-me – percebemos que tinha sido um susto. Com a chupeta e o colinho acalmou, vimos que mexia a mão e só tinha a ponta de um dos dedos raspada. Chorei muito depois, agarrada a ela, enquanto a via num soninho descansado. Fazemos aquilo todos os dias. Como é que foi acontecer? Liguei para o Z. e para a minha mãe. Nenhum dos dois atendia. Quando a minha mãe me devolveu a chamada não me ajudou, “Tens de ter cuidado, a menina podia ter ficado sem mão”. Mesmo o que o meu coração de mãe precisava de ouvir. No sábado de manhã o pai levantou-se cedo e nós ficámos as duas a ‘namorar’ na cama. Levantámo-nos às 11:00 e fui logo fazer a sopa para ela. Ficou pronta a tempo do almoço e levei tudo o que precisava para lha dar na sala. Como estava muito quente, levei um pratinho para onde comecei a deitar a sopa, para arrefecer mais depressa. Estava a fazer isto na nossa mesa e ela sentada na cadeira dela, com o tabuleiro a separar-nos. Foi quando ela se esticou, ficou quase de pé na cadeira, e meteu as mãos na sopa acabada de fazer. Choro, muito choro. E água fria, e creme gordo, e depois lá percebemos que estava tudo bem. Nestes dias, não preciso de o dizer, senti-me a pior do mundo. Sempre tão preocupada, tão atenta (pensava eu), com tantos medos, e nem quando estou por perto, nem com ela bem presa no meu colo, a consigo salvar de todos os males. Coisa difícil, esta de ser mãe. A pior de todas, no meu caso.

 

[Entretanto, já chegaste aos 14 meses. E com eles chegou o teu primeiro dente. Fomos hoje à pediatra que riu muito e disse que ia deixar de poder dar-te como exemplo quando chegam lá pais preocupados com bebés de 6 meses que ainda não têm dentes, “olhem que eu tenho aqui uma menina com mais de um ano que ainda não tem nem um”. Aumentaste de comprimento e aumentaste de peso, o que nem sempre é fácil. Continuas meiguinha, sempre a dar beijinhos (ontem na escola foram dar contigo debaixo da cadeira da papa a dar beijinhos ao Xavier, só porque o Henrique não estava, e no dia dos sentimentos foste a mais beijoqueira). Dás muitos aos bonecos, aos livros, e para o ar. Agora já sabes mandar também com as mãos (mandaste os primeiros aos avós, via Skype), e já gostas de dar nas nossas bochechas. Se dás um ao pai, tens de dar um à mãe também (dizem que nisto sais a mim…), e adoras ficar ao meio na cama a fazer festas nos dois ao mesmo tempo. Conversas e cantas muito, e agora tudo é ‘tátá’. O papá, a mamã, as fotografias. De vez em quando lá arriscas imitar-nos, e saem coisas como ‘añana’ (banana), ‘ela’ (estrela), ‘óa’ (Aurora). Continuas bem disposta e a gostar de passear – na nossa ida à Serra da Estrela só reclamaste na hora da comida, e nem te chateaste com as muitas horas no carro. Assim que ouves uma música começas a dançar e a bater palmas. A hora da comida continua difícil – começas logo a dizer que não com o dedito, mas o pai insiste e sabemos que chegou a hora de parar quando mandas para fora. Aí não vale a pena insistir. Até esse momento, o pai distrai-te com o Ruca e com os teus brinquedos preferidos de momento: tachos, panelas, tupperwares, louças (é por isto que as mulheres nunca vão dominar o mundo). Preferes a nossa comida, e ontem já não pegaste na tua sopa depois de veres o segundo prato. Gostas de noodles, ovo mexido, arroz, fiambre de peru e banana. E de tudo o que seja doce (menos xaropes, que continuas a vomitar). Continuas a gatinhar com uma perna debaixo do rabo e a andar só pela nossa mão ou agarrada às coisas. Há três semanas fizeste o teu primeiro galo na escola – testavas o equilibro quando caíste e bateste na quina de um móvel. Ainda se nota. Ainda me dói. Dizem que pode ter interferido com a tua confiança, mas a pediatra diz que é normal os bebés que gatinham de rabo demorarem mais a andar. Agora detestas vestir collants (quando te visto a segunda perna já despiste a primeira…) e mudar a fralda. É preciso dar-te uns 20 brinquedos diferentes para acabar de te vestir. Tens uns olhos lindos (com a cor dos do pai), sempre abertos e atentos. Continuas curiosa com tudo o que te rodeia, principalmente se tiver botões e luzes, como os comandos e telemóveis. Na falta de verdadeiros, tudo te serve de telemóvel, e encostas à tua orelha enquanto arriscas um ‘tá-lá?’. O ‘já-tá’ também é um clássido, e serve para quando o elevador pára ou quando terminas de mamar. Queres mais? Abanas a cabeça, ‘já-tá’. Na hora da sesta adormeces bem, abraçada a nós, a mexer nas nossas orelhas, a fazer-nos festas ou a dar-nos beijinhos. Às vezes despertas, olhas para nós, sorris, dás um beijinho e voltas a dormir. E eu fico tão feliz. À noite é mais difícil – as minhas costas confirmam. As do pai também. Damos-te banho, mama, deitamos-te na tua caminha dentro do saco cama, rezamos, contamos histórias, cantamos, brincas com os bonecos que estão à mão, mexes nas nossas orelhas, no nosso cabelo, dás beijinhos e quando pensamos que estás a adormecer, damos por ti sentada a dizer ‘olá’. Às vezes é preciso repetir os procedimentos muitas vezes. E depois, entre as 02:00 e as 03:00 encontramo-nos para um aconchego. Já cortaste o cabelo, porque a franja já chegava aos olhos, e temos de usar amaciador porque atrás fica tudo emaranhado. Recebemos a tua primeira avaliação da escola – ainda há muitas coisas que não sabes fazer, mas fiquei feliz com a parte dos relacionamentos, em que tiveste tudo ‘sim’: interages com pequeninos e com adultos, partilhas os brinquedos, és meiguinha, és feliz. E isso é tudo o que mais quero na vida, pequena Aurora, que sejas feliz.]

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