Terça-feira, 30 de Setembro de 2014

.10

Pequena Aurora, meu pequenino grande amor, já estás connosco há 10 meses. Os últimos têm sido atribulados, mas nem por isso menos bons. Estamos juntos, e só nós sabemos o quanto isso é bom. Foste para o colégio sem qualquer problema. Sofremos mais nós (sou sempre eu a levar-te e a ir buscar-te, mas num dia em que o pai foi, depois de uma consulta, ficou com lágrimas nos olhos e não conseguia sair dali - tive de lhe explicar que o truque é não olhar para trás, passar-te para outro colo, dizer adeus, e seguir em frente). Começaste a fazer a fita do costume para comer, mas já comes a sopa toda ao almoço. Nunca trazes a mesma roupa que levas de manhã, porque há sempre um cocó fugitivo ou sopa espalhada por todo o lado. Logo na primeira semana começaste a sentar-te bem, e ficas sempre a rir e bem disposta. Costumo brincar e dizer que devias chorar um bocadinho por mim, mas é bem melhor assim. Ver o teu sorriso dá-me forças para passar o dia longe de ti. Nos últimos tempos as doenças não te largam, mas não trouxeste nenhuma do colégio. Talvez só a primeira – uma virose (nome que parece que serve para tudo!) que te deixou com 40º de febre, a mim em pânico, e nos levou às urgências. Uns 15 dias depois, na casa dos avós, começaram a aparecer umas borbulhas que eu reconheci de qualquer lado. Foi assim que ficaste livre da varicela, aos oito meses e meio. Dez dias juntas em casa que, se não fossem por doença, teriam sido perfeitos. Tomaste Aciclovir para que não ficasses com mais lesões, mas depois ganhaste umas novas borbulhas no pescoço, na boca e nos braços. Eczema, disseram nas urgências; alergia, disse a dermatologista. Mais de três idas ao médico depois, ainda continuas com algumas. O teu angioma já está muito mais baixo e mais pequeno, nota-se que está a ser 'absorvido'. Mas a dermatologista diz que vais ficar com uma cicatriz e excesso de pele naquela zona. Não faz mal, o importante é que não sofras - ainda que falte muito tempo para terminares o tratamento. Aos 9 meses chegaram as férias na Curia, e como foste feliz! Aprendeste a dizer adeus, vibraste com os primos, a bisavó e a madrinha, comeste sopa nos restaurantes e provaste os teus primeiros boiões (horríveis!). Tocavas nas pessoas para chamar a atenção, dizias adeus quando passavam por ti, ias ao colo de toda a gente e até fazias turras com as senhoras das lojas. Dormias no meio dos pais e, em 5 minutos, tinhas os pés em cima de um e a cabeça em cima do outro. Não adiantava arranjar-te, voltavas a esta posição em segundos. Adoraste andar na piscina com o pai e fazias uma birra quando eles não te levavam para a água. Muito pequenina. Na verdade, mal te ouvimos chorar nessa semana. Mas as tuas gargalhadas, essas sim, fizeram-se ouvir bem todos os dias. Voltámos a casa e trouxemos mais uma doença connosco – outra virose. Esta com vómitos e diarreia. Primeiro apanhou-me a mim, depois a ti, depois ao pai. Olhavas para nós, um bocadinho desesperada, sem perceber o que se passava; e nós ainda mais doentes por te vermos assim. Ficaste um dia em casa com o pai, e dormiram sempre, porque não estavam nada bem os dois. No dia seguinte fiquei eu contigo e tivemos uma surpresa: começaste a bater palmas! E gostas tanto de o fazer. Bates palmas quando estás a mamar, quando ficas contentem, quando queres chamar a atenção. Chegou mais uma semana de férias e pensámos que íamos poder respirar de alívio finalmente, mas não. Cada um de nós foi vítima de uma doença diferente, a ti calhou-te uma conjuntivite. Todas estas coisas acabaram por te tirar o apetite, e acabaste a comer ainda menos do que o costume. Não gostaste nada da praia – o vento, as ondas, deixavam-te assustada. Mas gostaste de brincar na areia e beber a água salgada que te trazíamos num baldinho. Adoravas ir para a rua conversar com as vizinhas ao colo da avó, ir ao mercado com ela, e não foram poucas as vezes que as pessoas vinham ter contigo a saber o teu nome e eu sem saber como. Ias ao colo dos turistas, rias-te quando falavam para ti em inglês, e brincavas com eles como se os conhecesses desde sempre - até choraste quando uma senhora italiana saiu do restaurante depois de ter passado a refeição a meter-se contigo. Na semana passada fomos ao centro de saúde e vim de lá a chorar: não aumentaste nada. Olhando para este cenário de doenças, assim o diz a tua pediatra, é muito normal que assim tenha sido, mas ali fizeram-me sentir má mãe e duvidar de muitas coisas. Nos últimos dias já tens comido melhor, e começaste a fazer papa à tarde com o meu leite, o que me deixa mais animada. Mesmo sem aumentares, continuas com as pernas e os braços cheios de 'chouriços' bons onde eu dou um monte de beijinhos todos os dias.

És uma bebé tão, mas tão feliz. Ris-te para toda a gente, metes-te com as pessoas todas na rua, tens de tocar nos meninos nos carrinhos de bebés, dás gritinhos de alegria só por brincar ao esconde-esconde. Acho que és meiguinha - claro que não faço ideia do que te passa pela cabeça, mas fiquei emocionada quando a educadora me disse que num dia em que o Ca., um dos bebés da tua sala, estava mais chorão, tu, que brincavas ao lado dele no chão, tiveste o cuidado de lhe dar a mão sempre que ele chorava. Mas as tuas festas não são nada meigas, tenho uns quantos arranhões que o provam - principalmente no peito, porque agora paras de mamar e ficas a tentar apanhar o mamilo com dois dedinhos armados em pinça. Se o pai estiver sem camisola, os dele também servem. Adoras animais – queres mexer em todos os cavalos, todos os cães e até num gafanhoto que o pai apanhou adoraste fazer festas. Começas a chamá-los assim que os vês, numa linguagem só tua que vamos começando a entender. Apesar de teres as tuas rotinas, e de as quebrarmos às vezes, voltas aos teus dias sem qualquer problema. Depois das férias tão agitadas e com tanta brincadeira, ficaste na escola sem reclamar e cumpriste os teus horários de lá sem chorar. Não gostas de comer, preferias viver só de mama. Não há uma única fruta ou sopa que eu possa dizer que gostas, porque fazes sempre o teu ar de nojo a provar tudo, mas não deixas de provar. Adoras comer côdeas de pão e bolacha Maria. Assim que te damos uma destas coisas largas a chupeta de imediato e levas logo à boca. Se começam a partir-se aos bocados, ficas com as duas mãozinhas a tentar colar, até perceberes que aquilo não volta a ligar e começares a comer de novo. Agora ris com os olhos fechados, e só de te ver assim fico com lágrimas de alegria nos meus. Percebes que nós achamos piada a isto, e, quando falamos com os avós pelo Skype, ris-te assim tantas vezes que, como diz uma amiga, mais pareces uma estrelinha cintilante. Estás tão habituada a falar com eles assim, a vê-los no ecrã do telemóvel, que quando to metemos no ouvido para ouvires alguém começas logo a puxá-lo para veres quem está a falar. Para ti, o telemóvel só serve para ouvir e ver ao mesmo tempo. Gostas de mexer em tudo, principalmente se não for um brinquedo teu, e levas tudo para a boca. Não gostas de estar na manta parada, preferes andar ao nosso colo para todo o lado. E se estás no carrinho com muita gente de pé à tua volta, começas a dar pulinhos e a fazer caretas para te tirarem de lá (mesmo nos elevadores com gente que não conheces). Às vezes afastamos um dos brinquedos para ver se chegas até lá, mas ou perdes o interesse e agarras outro, ou rebolas até chegar lá - viras-te de barriga para baixo, vês onde está o que queres com o pescoço muito esticadinho, levantas o rabinho, ganhas balanço e voltas a virar-te. E assim vais fazendo até chegares lá. Adoras mexer em orelhas, nas nossas e nas tuas, e acabas mesmo por adormecer agarrada às nossas. Adormeces comigo a cantar-te ‘O Balão do João’ ou a minha versão: “O soninho da Aurora / Sobe, sobe sem parar / Vai dormir, a bebé / Sempre a Sonhar. / Mas o soninho a subir / Deixa a Aurora sem querer dormir / Fica então, a bebé, muito rabugenta”. Ainda dormes no nosso quarto, mas a médica já me disse que temos de mudar isto. Vou sofrer de muitas maneiras: ainda és a minha bebé, queria ter-te ali assim para sempre; vou trabalhar no dia seguinte e tu ainda mamas durante a noite (mais nos dias de colégio do que nas férias e fim de semana – queres miminhos!). Há noites em que chegas a mamar 4 vezes. Não, não é o meu leite que não presta, queres só ter a certeza que nós estamos ali e apanhar um miminho extra. Sim, tens 10 meses e ainda mamas. E as pessoas conseguem ser cruéis com isso. "Ainda mama com essa idade?", "Como é que tens paciência para ainda tirar leite?", "O teu leite já nem deve prestar". Ignorar é a palavra certa. Mamas sim, e vais mamar até querermos as duas. Eu sou feliz a fazê-lo, tu gostas e faz-te bem. Mamas de manhã, ao almoço tiro no trabalho, mamas quando chegas da escola para adormecer, antes de dormires e durante a noite. Sempre que queres que a gente te levante, atiras-te para trás – que perigosa! E se te meto na manta de manhã para arranjar as coisas, começas a fazer estalinhos com a língua porque sabes que quando fazes gracinhas vamos logo a correr ter contigo. Meto-te na tua cadeirinha, ao meu lado, enquanto tomo banho e ainda te aguentas uns 5 minutos lá, mas depois ficas rabugenta e começas a atirar os brinquedos todos para o chão, e a olhar para eles lá em baixo. Fazes isso quando estás cansada de estar na cadeira, quando queres apenas um colinho ou quando não te damos aquilo que queres. Conversas muito, tanto, e tentas imitar aquilo que dizemos. Consegues fazer uns sons muito parecidos, e a madrinha até diz que vais falar antes de começares a andar! Já dizes uns "mamamamama", uns "papapapapa", uns "têtêtêtê". Rimos muito as duas, de manhã, quando acordas e eu te digo que faço magia, abro a janela, e é de dia! Como é bom começar o dia com a tua gargalhada só por veres a luz entrar no quarto! Custa-me muito estar tão pouco tempo contigo. Partilhamos a caminha depois do pai ir embora, porque adormeces depois de mamares, e ali ficamos até o despertador tocar. Arranjo-te, enquanto te vou explicando o processo todo - a troca da fralda, a muda da roupa, os cremes, o medicamento para o angioma. Depois arranjamos o meu almoço, o teu leitinho para levares para a escola, as coisas da bomba do leite e lá vamos nós. Gostas de me imitar a carregar nos botões do elevador, de rir para o espelho e de ver os andares a passar. Falo contigo no caminho, que é muito curto. Explico-te que preferia ficar o dia todo contigo, mas que a vida dos crescidos é mesmo assim. E depois é só esperar que o dia passe. As mães vivem cheias de culpas - ouvi isto tantas vezes, e é mesmo verdade. Fico tão, mas tão feliz quando te vou buscar à escola – assim que me vês pelo vidro da porta começas aos gritinhos, aos saltinhos, e ai das educadoras que não te peguem logo no segundo seguinte para vires ao meu colo, que começas numa choradeira sem fim. Assim que estás no meu colo, tudo está bem, e já nem me ligas, preferes ver tudo à tua volta. Chegamos a casa e dormimos juntas uma sesta que pode bem chegar às 3 horas! Se me levanto, tu acordas, então fico ali ao teu lado nem que seja a contemplar-te. Depois, é hora do pai chegar a casa, e basta ouvires a chave na porta para começares a rir e a procurá-lo na direção da porta. Continuas cheia de curiosidade por tudo o que te rodeia, pelo mundo, e a tua cabeça não pára um bocainho (o tio J. diz que um dia partes a mola!). Ainda não gatinhas, não andas e não fazes um sem fim de coisas que estão sempre a perguntar-me. Não faz mal. Temos tempo. Todo o tempo do mundo, espero com muita força. Contigo, é o que eu mais desejo.

Sexta-feira, 15 de Agosto de 2014

.Querido avô...

Fez na quarta-feira 18 anos que morreu um dos homens da minha vida, o meu avô. Digam lá o que disserem, pensem lá o que pensarem, nesse dia senti que o tinha perdido. Tinha 12 anos e levaram-me de casa para a outra avó. Tive direito a uma despedida, dias antes, sem saber. Fiz-lhe duas promessas: que ia cuidar da avó e que ia estudar, porque a loja já não tinha muito futuro. E fiquei com as moedas que tinham caído dos seus bolsos para o chão. Nesse dia, na outra avó, os cães uivaram muito tempo e os galos cantaram à tarde, fez-me ela notar. E isso, por ali, é sinal de morte. Uma das primas do Seixal, da minha idade, que passava férias na avó dela, pôde pela primeira vez dormir fora de casa e passou comigo a noite. Tantas coisas estranhas. Depois, de manhã, os vizinhos que me foram buscar para ir comprar roupa escura, já depois de saber a notícia. E ali estava eu, mais tarde, de negro por dentro e por fora, à espera que levantassem o pano branco naquela que hoje é a casa da tralha dos pais, para me despedir de si. Não me custou olhar. Mais branco, mais vazio, mas o meu avô, já sem dor. Foi ali que percebi que era tudo verdade. Foi a minha primeira morte, a primeira pessoa que me faltou sem ilusões de volta possível. Sofreu mais do que devia, mais do que as pessoas más deviam sofrer, quanto mais o meu avô. Não tenho ilusões aqui também. Sei que não era perfeito, que tinha lá as suas coisas, mas todos temos. E tenho tantas coisas boas na memória, e apenas uma má. O tempo também tem coisas boas. Ainda na primária, quando chegava da escola, a avó fazia sempre ovos estrelados para o nosso lanche. Nesse dia, uma cliente fê-la perder mais tempo na loja, e demorar mais a fazer o nosso lanche. Quando chegou à cozinha, o avô pegou na frigideira já com azeite e atirou-a ao chão - sujou as cortinas novas da cozinha onde comíamos sempre todos, em família. Eu fugi, a chorar, para casa, ele foi atrás e pediu-me desculpa. Fui a única neta que teve a sorte de passar férias com os dois em Sesimbra - e se eu era difícil, por ser muito dada. Dizia-me que eu conhecia uma equipa de futebol diferente todos os dias. Agora vamos para a Curia só com a avó, este ano já com a Aurora, e imagino como gostaria de nos ver a todos - não tanto nos últimos tempos, porque a doença lhe tirava a paciência (mas não o amor). Tive também a sorte de passear com ele por Vendas Novas, onde conseguia chegar de olhos fechados, de comprar peixe e fruta, de conhecer os seus amigos. Participámos uma vez num rallypaper com o vizinho A. Rita e ficámos em último lugar. Encarregou-me a mim de escolher o prémio e pensou, sei lá porquê, que eu ia escolher uma garrafa de bebida. Escolhi uma cabaça com desenhos e ouvi ralhar - mas ainda a tenho! Acho que cumpro as minhas promessas - faço o que posso pela avó, e estudei. Não que isso faça a diferença, avô. O meu emprego, por estes dias, transformou-se em trabalho e irei para lá um bocadinho mais triste. Vão mudar-me de sítio e para onde vou não preciso de nada daquilo que levei anos a aprender. Vou sem reclamar, pois, que nesta fase da vida o ordenado, enquanto vier, é muito bom. Ouvi, durante muito tempo, que era muito parecida a si - sempre que apanhava uma birra! Há já uns bons tempos que não apanho nenhuma, mas gosto de pensar que continuo parecida em qualquer coisa. Agora aprendi a falar no momento e isso deixa-me tão leve que às vezes até me esqueço do motivo que me levou a ficar triste (na vida, no trabalho não dá).A loja, pois, a nossa loja. Oiço há muitos anos que não chega ao final do ano, mas lá vai resistindo. Com os problemas do costume, com os que a crise também trouxe, e com mais alguns ainda. Mas o melhor pão do mundo ainda é nosso. E no dia em que ela fechar morre também um bocadinho meu. E sei que seu também. Lembro-me de ir até ao cemitério de bicicleta e ficar ali a falar e a olhar para a campa até me dar um arrepio por estar ali sozinha. Sítio estranho, o avô sempre o disse. E que não queria estar ali sozinho, mas também não queria estar muito fundo, então a avó comprou a campa do lado e ali anda a limpar a sua, em cima do sítio para onde diz que vai também. E isso arrepia-me sempre. A mim, por favor, não me metam ali. Não quero, como um dia me disse, as 'rapas' a comerem-me os ouvidos. Que me queimem logo de uma vez. Lembro-me dos que me partem todos os dias, mas nestes ainda mais. Quando rezo, é para eles, é para si. Não que ache que Deus seja inacessível, pelo contrário, mas gosto deste gesto com os intermediários que tenho mais perto dele. Não que eu seja uma pessoa má, espero eu. Mas, se já sou pecadora aos olhos da igreja, pelo menos sei que tenho ali quem interceda por mim. Tive saudades suas. Como tenho todos os dias. E pensei nestas coisas, e em tantas mais. Que ainda sei o seu cheiro, que se sentava no chão perto do forno da loja para aquecer, que bebíamos um Compal de pêssego todas as noites, e que tinha por mim um amor sem fim. É verdade que o tempo torna a dor mais pequena, mas ainda faz o coração pequeno e as lágrimas grandes. Porque um amor assim não se esquece, nem quando a ausência atinge a maioridade.
L. às 16:59
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Quarta-feira, 16 de Julho de 2014

.O B'lota

A história da Dona Teresa, da Prima Teresa ou da Tia Teresa*, os vários nomes pelos quais responde, quase se confunde com a da Casa Silva, onde a podem encontrar quase todos os dias. Chegou ali aos 30 anos, mas, quando já se chegou aos 77 anos - nasceu a 5 de Março de 1937, parece uma vida. Terceira de quatro filhos de Francisco J. F. e Isaura D. F., nasceu no Monte de Pau, perto das C., onde viveu até casar. A irmã mais nova faleceu aos 30 meses, de meningite, o mais velho, Jaime, faleceu recentemente, resta-lhe ainda a irmã M. I.. A escola foi feita nas C., onde chegava a pé, e as boas notas, principalmente a matemática, fizeram com que o professor a quisesse passar logo para o 3º ano. O pai não deixou. A cabeça boa dura até hoje – sabe um sem fim de números de telefone de cor e salteado e faz muitas contas de cabeça enquanto vende pão. Depois da 3ª classe o pai quis que estudasse para ser professora, mas ter de ir para longe da família fê-la desistir – não era como agora, não havia autocarros nem tantas facilidades. Ajudava em casa e trabalhou no campo, numa herdade em Malhadas do Meio, onde os pais faziam searas. O marido, Francisco C. da Silva P., conheceu-o num baptizado, da Emília do Gaudêncio, onde foram os dois padrinhos. Ela ficou-lhe debaixo de olho, e pouco depois, num bailarico, pediu-a em namoro. Juntaram-se depois de 3 anos de namoro, porque esperavam o primeiro filho, J. M., e casaram já com a presença dele, com 6 meses. A parteira não deu conta do recado, tiveram de chamar o Dr. Virgílio, de L., e o bebé nasceu com a cabeça tão espalmada que o marido achou que ia ficar defeituoso, mas o Dr. conseguiu metê-la no sítio. O segundo filho, C. M., nasceu cerca de 16 meses depois, e o médico já só teve de ajudar no final. A loja ficou-lhes de herança – já os sogros a tinham quando o marido nasceu. Ele ainda chegou a andar em Évora, a tirar o curso de Farmácia, mas desistiu por estar longe da família. Entre os sete irmãos, foi o último a tirar o papel – ficou com a loja. Se não tivesse calhado assim, já tinham pensado em emigrar. Aos 30 anos, apareceu um caroço na cara do marido que acabou por lhes marcar a vida. O médico da terra julgou que era por causa da saliva, mas enganou-se. Tratava-se de um tumor que o levou a cerca de 10 operações, a quimioterapia, a uma vida cheia de sofrimento, que terminou há 18 anos. O último pedido que lhe fez foi cumprido, faleceu em casa, junto aos dois filhos. Continuou a trabalhar na loja e, para aliviar o cansaço e as dores (chegou a ajudar o marido a carregar sacas de 80kg), começou a ir passar férias todos os anos com os netos, para a Curia, onde a sua mãe ia tratar as pedras nos rins. Começaram a ir no ano em que a neta mais nova nasceu, a M., já ela fez 16 anos. Aos netos F., L. e A., juntaram-se já os namorados das netas, e este ano há-de ir também o mais novo membro da família, a bisneta Aurora. São férias com muitas gargalhadas, birras e ralhetes da avó, mas passam o ano a contar os dias para voltar ao sítio onde os conhecem por “a avó e os netinhos”, por ser a única que consegue levar para lá tanta gente jovem. Gosta de fazer renda, caminhadas com as amigas, fazer compras e passear. Lamenta não ter tirado a carta, ela que decora tão bem os caminhos, mas o marido achou que não era necessário, toda a gente tinha na família. Hoje acha que lhe dava muito jeito. Mas foi de avião que conheceu o sítio de que mais gostou, os Açores, e onde vai voltar este ano. Não se deita sem se agachar e espreitar debaixo da cama, hábito que ganhou com a avó Rita, que espreitava até o sótão antes de ir para a cama. Aos 77 anos, continua a trabalhar todos os dias, desde cedo, na loja. Mexe na nova caixa registadora, que achou que nunca ia conseguir, e continua a subir o escadote para chegar às prateleiras mais altas. A última vez que subiu acabou por descer da pior forma, e valeu-lhe umas nódoas negras, um galo, uma costela partida e liquido no pulmão. Não faz mal, enquanto conseguir quer continuar a trabalhar, que a loja, de que o marido gostava tanto e ela não, ao início, até lhe dá vida. E Setembro e a Curia estão quase a chegar, para poder então descansar.

 

(*Eu tenho a sorte de lhe poder chamar avó Teresa)

Segunda-feira, 30 de Junho de 2014

.Dores de mãe

Duas crianças morreram na sequência de um acidente numa Moto4. Uma criança morreu num incêndio na Damaia. O filho de uma conhecida jornalista morreu depois de um acidente numa piscina. A televisão no fim de semana a acabar com o meu coração de mãe. Esta noite a Aurora mamou 4 vezes – às 00:00, às 02:30, às 04:30 e às 07:30. Talvez também esteja ansiosa com a ida para o colégio, amanhã, não sei. Eu agradeci. Foi tão bom ter uma desculpa para agarrá-la mais tempo, sentir o seu corpinho quente, o cheirinho bom do cabelo dela, as festinhas que me vai dando com a mão de um lado para o outro. Depois dar-lhe um beijinho na bochecha ainda com leite e voltar a deitá-la, enquanto agradeço, tantas vezes, por tê-la na minha vida e peço que nunca nada de mal lhe aconteça. Sempre fui pessimista e sofri por antecipação, mas agora, desde que fui mãe, tudo me parece muito mais negro (e mais feliz, ao mesmo tempo). Digo aos meus pais que não sei como me deram tanta liberdade, que penso seriamente em fechar a Aurora no quarto para que nada de mal lhe aconteça, mas sei que tenho de aprender a gerir os meus medos, inseguranças, e que ela também terá de ter espaço para viver (e sim, nos quartos também acontecem coisas más, eu sei). Mas este lugar onde agora me encontro, mãe, eu-mãe, faz-me sofrer até pelas dores dos outros. Nos últimos tempos uma série de pessoas à minha volta sofreu mais do que devia num momento da vida que devia ser de extrema felicidade – o parto. Sofreram as mães, os pais, os bebés. Uns já recuperaram, outro não se sabe se ficará com algum problema, outro acabou por falecer. Nesse dia, em que soube desta última história, chorei e agarrei tanto a minha filha. E o Z. ralhou muito comigo, que não posso ser assim. Mas não consigo deixar de questionar o mundo, a vida, tudo o que acontece. Quem sou eu para ter tido a sorte de ter um parto bom, num bom hospital, sem sofrimento para nós nem para ela? O que tenho eu a mais? Porque tenho eu a sorte de ter a minha filha bem nos braços e outros pais não? Que mal fizeram todos os outros pais para que lhes tirem assim os seus filhos? Ainda vou ser penalizada por esta sorte? Ser mãe é viver com o coração fora do corpo, digo eu e todas as mães (menos aquelas que os tentam vender – mais uma notícia que me faz questionar o mundo). E quando esse coração pára de bater, como é que se continua a viver? Espero nunca ter de o saber. Dói tanto, tanto, só de o ver acontecer aos outros. E nunca me esqueço que nós somos os outros dos outros.

Quarta-feira, 25 de Junho de 2014

.7

Ontem chegámos aos 7 meses, tu e nós. 7 meses juntos, 7 meses a ser bebé, filha, 7 meses a ser pais, a ser felizes como não imaginámos antes. 7 meses que passaram a correr. Por outro lado, penso que ainda só passaram 7 meses. E tu já mudaste tanto, e já fizemos tantas coisas boas. Pelo meio, houve coisas más também. Como quando o teu hemangioma ulcerou, choraste toda a noite, acabámos nas urgências para onde voámos contigo ao colo. Nesse dia fui forte, como dizem que as mães têm de ser, e só chorei quando vi outro bebé entrar com falta de ar. Passem os males dos pequenos para nós, por favor! Nenhum bebé/criança do mundo devia sofrer. Foste vista por não sei quantos médicos, e uma coisita que era apenas uma mancha quando nasceste, e que cresceu de mais, continuava a sangrar e, pior, a doer-te. E eu percebi, pela primeira vez, que não te consigo salvar de todos os males. Não deviam as mães poder fazê-lo? Ainda assim, foi um dia cheio de sorte. Porque te trataram bem, se preocuparam contigo, fizeram mais do que deviam para te ver bem. Terminámos o dia num outro hospital, no cardiologista, que deu autorização para que começasses a fazer um tratamento com beta bloqueantes. Uma coisa ainda experimental, que toda a gente nos diz para não termos medo, apesar de te reduzir o ritmo cardíaco, diminuir o açúcar no sangue e teres de o fazer 3 vezes ao dia até, provavelmente, aos 2 anos. Mas ver-te melhorar tão depressa deixa-nos cheios de esperança. Não te ver a sofrer deixa-nos de coração cheio. Sofremos também, os 3, porque não querias pegar no biberão – nem comigo noutra divisão, nem fora de casa, nem em posições ou sítios diferentes, nem com outras pessoas, nem com tetinas de diversas marcas, nem com leite aquecido, descongelado, à temperatura ambiente ou acabado de tirar. Querias, só, mama. Mas a vida não pára e eu tive de regressar ao trabalho. O pai, apesar de ter dito que não ia montar uma tenda à porta do meu estaminé (mamavas de duas em duas horas!), lá cedeu depois de tanto sofrimento – veio contigo todos os dias até mim, à hora de almoço, para mamar. E que bem que me soube, confesso. Só nos últimos dias de licença do pai voltámos a experimentar o biberão, primeiro com água, depois leite, e agora parece que o fizeste desde sempre. Entretanto, e à conta do propanolol, não podias estar 4 horas sem comer, e começámos as papas um bocadinho antes dos 6 meses. No biberão até bebes bem a papa, no prato, à colher, fazes uma birra enorme, assim como fazes com a sopa e com a fruta. Por ti, vivias bem só com leite. Na próxima semana já vais para o colégio e, se o meu coração fica pequenino só por pensar nisso, espero que esta seja uma das coisas em que elas te façam mudar. Não estamos lá nós, terás de comer de qualquer maneira, espero. Agora, também já pegas na chupeta. O pai experimentou numa das tuas birras, e ficaram grandes amigas. Até já consegues adormecer sozinha na tua caminha, desde que a tenhas (ainda no nosso quarto, que ainda não tive coragem de te mudar). Não é uma paixão avassaladora, porque passados uns minutos acabas por deitá-la fora, mas adoras ficar a ‘mordê-la’, como fazes com tudo o que apanhas. Agora, desde que começaste as sopas, temos um novo amigo lá em casa, o Bebegel. Tu, que sujavas quase todas as fraldas e mesmo as roupas, deixaste, pura e simplesmente, de conseguir fazer cocó sozinha. E sofres mesmo com isso. Mesmo com estes pequenos problemas (pequeninos mesmo, quando comparados com outros), é tão bom. Sou tão feliz por ser tua mãe. E sei que também és feliz, consigo vê-lo. E há quem o note e o diga. Penso que não é dos meus olhos, mas és linda. E não consigo deixar de sorrir quando as pessoas mo dizem – como a senhora no Campo Pequeno que me dizia: “você já viu bem os olhos da sua filha?”, e eu preocupada se tinhas alguma coisa, mas não, queria só dizer que “tinhas os olhos mais bonitos que eu já vi”. As rotinas vão mudando, e nós vamo-nos adaptando. Depois da licença do pai estive eu de férias. Comigo detestas comer, fechas a boca com toda a força e ali não entra nada. Se despachas a mama em 5 minutos, e ela até está à tua frente, porque hei-de estar uma hora a dar-te sopa? Depois terminaram as minhas férias e voltou o pai. E como és feliz com ele. Só de ouvires a voz ficas em êxtase, dás pulinhos e ris muito. Para mim só há sorrisos grandes quando chego a casa, depois passa. Continuas a mamar de noite, por volta das 4, e eu adoro. Ouvir-te a resmungar, pegar-te ao colo, meter-te na nossa cama, aninhar-te a mim e ficar ali a dar-te beijinhos enquanto mamas. Depois, antes de sair às 08:00, volto a fazer o mesmo – já passámos por várias fases: primeiro dava-te o medicamento, trocava a fralda e voltava a adormecer-te com a maminha; agora dou-te mama a dormir e o medicamento logo de seguida, muitas vezes sem que acordes. E ali ficas, deitadinha com o pai, até quase às 11:00, para comeres a sopa logo de seguida. Exiges muita atenção, ris-te muito para toda a gente, e continuas a preferir os homens. Conversas muito, tanto! Usas o 'dá' e o 'cá' quando estás feliz, e o 'tátátá' para reclamar. Ainda não tens dentes, nem gatinhas, mas quando estás de costas consegues percorrer tudo só a fazer força nos pés e a levantar o rabo, e viras-te para todo o lado. Já consegues ligar a luz do fraldário, tens só de te esticar muito. Como gostas de a ver! No centro de saúde acham que aumentas mais de peso do que de comprimento, mas a pediatra diz que estás bem e a roupa vai deixando de servir - nas tuas perninhas gordinhas e rabo de família já só servem calças para 9 meses. Continuas a gostar de banho e a fazer birra no momento dos cremes e do vestir. E adoras fazer um xixi na toalha logo que sais da banheira. Já foste à praia e detestaste tudo: a areia, a água, o sol. Tenho esperança que isso mude. Só isso. Apesar de saber que tudo muda, e que para a semana temos uma nova etapa, e tudo mudará muito mais do que até aqui. Queria dizer “não faz mal”, mas não consigo. Faz mal, faz pois. Gosto disto que temos. Custa-me não ver tantas primeiras coisas que irás fazer. Custa-me deixar-te ali e não passar mais tempo contigo. Mas posso prometer-te que vou estar a contar todos os minutos para chegar ao pé de ti, abraçar-te com toda a força, dar-te um beijinho no teu arrepio, outro na bochecha, e esperar pelo teu sorriso de volta, enquanto sinto os teus braços à minha volta e me arrancas mais um cabelo. Como já faço todos os dias desde que sou tua mãe. Já te disse que sou feliz contigo todos os dias? Sou, pois.

 

(Aqui, ao colo de uma das pessoas preferidas, o tio J.)

Segunda-feira, 24 de Março de 2014

.4 meses

Continuas a não querer chupeta. Mas já te aguentas na espreguiçadeira mais uns minutos, e até já ligas a alguns brinquedos. Esfregas os olhos quando tens sono, odeias soluços e ficas a rir quando espirras. Já sorris muito, com vontade, e conversas ainda mais. Já conseguiste dar a volta uma vez, na cama, e aguentas tão bem a tua cabecita no ar. Apanhas muitas birras, principalmente de sono ou porque não andamos a passear contigo ao colo, mas já vamos sabendo como acalmar-te. Levas tudo o que consegues para a boca, principalmente as mãos, mas só para lamber. O teu botão de fala fica no queixo, basta tocarmos lá para ficares na conversa. Já dormes na cama de grades, que era da madrinha, porque agora dormes à Cristo Rei, de braços abertos, e magoavas-te na alcofa. Não consegues mamar em sítios novos porque és muito curiosa e tens de observar tudo primeiro. A tua falta de cabelo atrás não se limita a um bocadinho, mas a uma faixa, por quereres ver tudo e não paráres quieta com a cabeça. O teu arrepio é cada vez mais difícil de pentear. E eu já começo a sofrer. Daqui a um mês regresso ao trabalho, onde ainda nem sei como vão ser as coisas, mas nem é por isso. Assusta-me tanto ficar longe de ti. Vais ficar com o pai durante esse primeiro mês, e depois fico eu de férias, depois fica o pai. Só vais para o colégio aos 7 meses, mas percebo que é nessa altura que começo a perder-te para o mundo. Para além de todos os desafios - da amamentação, da gestão de tempo, das saudades, ..., percebo que nunca mais vamos ter um tempo assim, só nosso, sem horas nem limites. A partir de agora, só os fins-de-semana, que passam a correr, e as férias, sempre tão bem contadas. Dizem-me que o melhor está para vir, quando andares, quando falares. Mas eu gosto tanto disto assim, não podemos parar o tempo um bocadinho aqui? Sempre disse que, ainda que me saísse dinheiro, gostava de continuar a trabalhar, porque gosto de fazê-lo. Esse risco não corro, porque não jogo, mas chegaste tu, e mostraste-me que é tão melhor estar contigo. Assusta-me perder uma das tuas descobertas, um dos teus momentos importantes, não estar aqui para ti. Mas dizem que a vida é mesmo assim. E, afinal, o que sei eu de tudo isto? Ainda 'só' passaram 4 meses.

Quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2014

.Hoje

Hoje, numa das mamadas da noite, adormeceste na nossa cama. Deixei passar aquele bocadinho de sono leve, em que acordas assustada algumas vezes e nos procuras com a cabecita sempre às voltas, e peguei-te ao colo com cuidado para te deitar na tua alcofa. Arranjei-te, tapei-te, e no fim tive o cuidado de te deixar as mãos em cima da manta, como tu gostas. Nesse instante, abriste muito os olhos, sorriste para mim e voltaste a dormir. E eu, que sei que ainda não falamos a mesma língua, voltei também a dormir feliz porque pensei que, em gestos, me tinhas dito: "olha, a minha mãe já sabe como eu gosto de dormir". Todos os dias dou um significado novo ao teu sorriso. O mais provável é que sejam só coisas da minha cabeça - não faz mal, o teu sorriso, por si só, vale tudo.

Parece que isto virou um baby blog...
Segunda-feira, 24 de Fevereiro de 2014

.Coisas que aprendi, que conheço, que sei, que passei a saber, que ainda não sei, ..., nestes 3 meses + 37 semanas

Há 3 meses, conheci a minha filha. Desde aí, tantas coisas mudaram. A começar pelo meu amor por ela.

Primeira coisa que aprendi ao ser mãe: o amor pode sempre aumentar. Quando achamos que já chegámos ao nosso limite, basta vir um novo dia e percebemos que não - amo-a sempre um bocadinho mais.

Segunda coisa: o tempo passa mesmo depressa de mais. 3 meses? Mas como é que passaram 3 meses? Já tens quase o dobro do peso, aumentaste 8 cm, já tenho caixas com roupas que não te servem, e outras nem chegaste a vestir! Tantas coisas lindas que nem saíram do armário porque, em casa, andar de babygrow é que é bom. E o tempo passa a correr.

Terceira coisa: sei muito pouco sobre ti. Há dias em que penso que te conheço muito bem. Que sei como vais acordar, mamar, adormecer. Como te vais portar a mudar a fralda ou no banho. Como te arrancar um sorriso ou fazer parar as lágrimas. Mas, depois, vem um novo dia e tudo muda. E eu adapto-me a ti, todos os dias.
Desde que nasceste que adoras o banho. Assim que começas a ficar sem roupa, notamos logo a tua alegria. Quando entras na água, a festa continua. E era sempre assim, até ao fim. Agora, sempre que te tiramos para a toalha e começamos a sessão de cremes e roupas, começas num choro sem fim, com lágrimas e tudo. E nós aceleramos o processo, mas sem qualquer resultado - queres leitinho. E não adianta dar-te antes, porque a água abre-te sempre o apetite. Não faz mal, eu estou cá para isso. A minha licença é para estar contigo e nada mais. Por enquanto, há uma coisa em que ainda não mudaste: adoras mudar a fralda. Podes estar com a maior birra do mundo, podes estar doentita ou com fome, que mudar a fralda é sempre sinónimo de sorrisos, gargalhadas e conversas.

Quarta coisa: as meninas são sempre filhinhas dos papás. Passo um dia contigo em casa, dou-te mama quando pedes, mudo os maiores cocós do mundo, contra todos os conselhos passo o dia contigo ao colo porque choras na espreguiçadeira e não consegues dormir ali de dia por muito tempo (mas de noite dormes bem na tua alcofa). Tenho o braço esquerdo super musculado porque já consigo varrer, lavar o chão, estender roupa, cozinhar, comer contigo ao colo. E, com tudo isto, ganho apenas uns sorrisos na muda da fralda. O pai precisa apenas de telefonar ou de chegar a casa para ganhar os maiores sorrisos, as maiores gargalhadas, as maiores conversas. Menina do papá.

Quinta coisa: adoro amamentar. Antes mesmo de nasceres, eu já sabia que queria muito fazê-lo. E sou tão feliz quando o faço! É um momento só nosso, em que te posso dar aquilo que mais ninguém pode. E fazes uns barulhinhos deliciosos enquanto mamas! E dás ou entrelaças as mãos de forma tão mimosa. Tenho a sorte de poder fazê-lo contigo a olhar-me olhos nos olhos. E não me importo quando estes momentos acontecem a meio da noite, nem quando acontecem várias vezes a meio da noite. Vou ter saudades disto, tantas.

Sexta coisa: mãe sofre muito. O tempo todo. Porque às vezes não queres comer, não queres dormir, o meu colo não te sossega, e eu não sei o que se passa. Porque às vezes tens fungos no rabo, tens uma hérnia umbilical e nasceste com um hemangioma. Porque é aflitivo ver-te de nariz tapado, a tossir, a espirrar, com ranhocas, a vomitar, com febre, a levar vacinas, ... . Porque não consigo pôr-te a água do mar ou o soro no nariz sem te fazer chorar. Porque não conhecemos aqui ninguém e quando fizeres 7 meses vais para um colégio, onde também não conhecemos ninguém, com uma mensalidade maior que a prestação da nossa casa. Porque às vezes não sei se serei a boa mãe que mereces e se te conseguirei proteger de tudo.

Sétima coisa: os filhos não prendem ninguém nem unem um casal, pelo menos nesta fase. Com tanto cansaço acumulado e falta de tempo, há sempre alguém mais negligenciado, e esse alguém é o pai. Quando estamos os dois em casa, aproveito para fazer aquilo que não consigo quando estamos sozinhas. E, quando adormeces, só quero adormecer também. Se não existir amor antes, se a relação não for forte, um bebé só piora as coisas. É muito fácil desistir e escolher o lado óbvio. Mas, quando existe amor, não há escolha possível porque tudo junto faz muito mais sentido. Olho para a Aurora como a melhor coisa que fizemos, e que só podia ter nascido de um amor assim.

Sétima coisa: um pai faz muita falta. Pelo menos um como o da Aurora. Eu reclamo, pois sim. Mas, desde o momento em que ela nasceu, que vejo todos os dias que ele é um pai espectacular. E ela também, tamanha é a felicidade da rapariga quando o vê. Não sei o que é dar um banho sem ele, por exemplo. No outro dia alguém me falava de um casal em que a mãe não deixa o pai fazer quase nada, porque ela é que sabe. Nós também entramos em conflito, porque às vezes um acha que sabe fazer melhor do que o outro, mas, sempre que ele está em casa, faço questão que ele a ponha a arrotar, que lhe mude a fralda, que lhe dê colo. Eu serei sempre a mãe dela, e tratarei sempre dela da melhor maneira que sei - mas deixa-me feliz saber que há mais alguém a tratá-la tão bem e a amá-la tanto quanto eu.

Oitava coisa: coisas várias. Sei que o único creme que não te deixa o rabinho assado é o Mitosyl. Mas que quando fica o que te salva é o Nutraisdin. Que as melhores fraldas são as da Chicco, mas usamos Dodot, que também são muito boas. Que não gostas de ter a fralda suja. Que se queremos que faças cocó basta tirar-te a fralda e deixar-te uns minutos assim no fraldário - somos contemplados com quatro ou cinco de esguicho. Que os teus xixis de muda da fralda saem em todas as direcções. Que quando apagamos a luz do candeeiro do fraldário antes muito os olhos, de susto e curiosidade. Que és pouco paciente, quando queres uma coisa é para ontem e não páras de chorar até a conseguires. Que gostas de andar a passear pela casa ao nosso colo. Que não gostas de te vestir. Que adoras estar sem roupa. Que veneras luzes - basta levar-te para perto de uma para sossegares, e, se estiverem apagadas, vais alternando o olhar entre elas e nós até que um de nós as acenda. Que iluminas a vida dos avós e dos bisavós de uma maneira que nunca imaginei sequer. Que cresces depressa de mais. Que adoras dormir no colo, de pé, bem encostadinha a nós. E que, nessas alturas, cruzas os braços sobre o nosso peito e deitas a tua cabecita neles. Que quando começas num choro sem fim só sossegas com colinho, de alguém que ande a passear contigo, a dar-te umas palmadinhas no rabo, de preferência perto de uma luz acesa. Também resulta encostar a cara à tua, cantar-te ao ouvido enquanto andamos ou dar saltos gigantes na bola de Pilates. Que tens um sensor que te faz chorar quando a pessoa que te tem ao colo se senta. Que gostas de ser abanada de cima para baixo e não para os lados. Que depois de adormeceres no nosso colo vais abrindo um olhinho às vezes - se nos vês, voltas a dormir, se te enganámos e percebes que já não estás nos nossos braços, começas a chorar. Que quando te espreguiças esticas muito o pescoço e me fazes lembrar o E.T.. Que tens as melhores bochechas do mundo para dar beijinhos. Que as tuas coxas são iguais às do teu pai. Que quando queres sair da espreguiçadeira te ris muito para nós e depois, quando percebes que isso não funciona, começas a chorar. Que gostas de pessoas e conversas, não gostas de silêncio, nem de bonecos (por enquanto, espero). Que já agarras na boneca Aurora enquanto mudas a fralda. Que não aguentas mais de 10 minutos no parque ou na espreguiçadeira - a não ser que seja na cozinha, com o exaustor ligado, ou enquanto tomo banho, com o termo-ventilador ligado. Que te ris mais para os homens do que para as mulheres. Que adormeces automaticamente no carro. Que tens o melhor cheiro do mundo, mesmo sem cremes (mas que gosto muito da loção da Isdin). Que tenho tanto orgulho em passear-te agora como quando passeava a minha barriga. Que as ruas não estão feitas para carrinhos de bebé - os carros estacionam nos passeios, as passadeiras não têm uma pequena rampa que ligue a estrada ao passeio. Que não gostas de levar fralda no ovo, preferes a capa transparente da chuva para poderes ver tudo. Que és muito observadora - enquanto andamos de um lado para o outro, ou quando paramos em qualquer sítio, a tua cabecita e os teus olhos não páram. Que não gostas de chupeta - já tentámos naqueles dias em que estás mesmo impaciente, mas chegas ao ponto de te engasgares. Que não dormes se tiveres as mãos tapadas. E que dormes com elas no ar. Que choras a vestir casacos e a entrar no ovo, mas que te calas assim que o levantamos do chão. Que gostas de adormecer encostada à minha maminha depois de mamares. Que um filho é um investimento a fundo perdido só compensado pelo amor que se recebe em troca - todos os dias faltam compressas, cremes, roupas, consultas, vacinas, cadeiras, ... . Vai correr tudo bem.

Nona coisa: eu nunca mais vou ser a mesma pessoa, de maneira nenhuma. E podemos começar pelo óbvio, a parte física. Vejo tanta gente elegante que me diz estar assim por causa da amamentação, e eu não estou porquê? Para já, ainda não estou muito chateada com este pneu que ganhei, e com coisas várias que ficaram moles de mais, mas quando chegar o Verão acho que vou estar. Nunca consegui fazer dieta na vida, e nunca poderia fazer agora, mas a verdade é que parece que continuo grávida ou pior, porque o apetite ainda é maior, principalmente por coisas doces. Mas depois olho para ti, tão perfeita, e quero lá saber destes 2kg a mais que ainda andam aqui. E estar grávida foi tão, mas tão bom. Senti-me tão segura, tão forte, tão poderosa - talvez seja também porque nos deixam passar à frente em todo o lado (dica de ex-grávida: o melhor sítio para fazer compras é o Continente, tem caixas exclusivas e não prioritárias). Com tudo o que ganhei, não me posso queixar das formas que perdi. Perdi também muitas das roupas que tinha - porque não servem, porque deixei de gostar, sei lá. Toda a vida usei calças à boca de sino, mas não encontrei coisas dessas para grávidas. Fui obrigada a usar calças justas e por dentro das botas, coisa nunca antes vista em mim. O pior é que me habituei, agora há um guarda roupa pré-gravidez, que já mandei para o Alentejo, e um pós-parto. E eu, que toda a vida me queixei de ter pouco peito, olho agora com saudade para os vestidos que já não me servem nessa zona - a gravidez é mesmo o silicone dos pobres! E o cabelo? Entre os que caem e os que me arrancas, não sei se chego a 2015 com algum!
Depois há a parte psicológica, que não é de todo fácil de explicar. É um amor inexplicável, uma preocupação constante, uma vida que depende por completo de nós, uma entrega total. Percebo que existam tantas mães com depressões pós-parto. É o melhor do mundo, mas não é sempre fácil. E os pais vão trabalhar cedo, e nós ficamos em casa um dia inteiro sozinhas, a ser felizes mas a pensar em disparates também. Digo muitas vezes ao Z. que não sei como conseguimos fazer uma coisa assim tão perfeita (e ele responde sempre: "queres que te lembre?"). Para mim ela é isso mesmo, a perfeição. E carreguei-a dentro de mim 37 semanas, e fui eu que a trouxe ao mundo, e está nas minhas mãos fazer dela uma pessoa boa e feliz. Como é que isso pode não mudar uma pessoa?
Deixei de me preocupar tanto com pó limpo, casa arrumada, roupa passada - logo se faz. Eu, que tinha poucos medos, passei a ter de sobra. Tenho medo de conduzir quando te levo, ao meu maior tesouro, no carro. Temo os acidentes, os outros, os furos, tantas coisas. Preocupava-me só com a morte dos que amo, agora preocupo-me com a minha também - quero tanto ver-te crescer e estar aqui para ti! Mas passei, quase por completo, para segundo plano, de livre vontade. E sei que também tenho de pensar em mim, mas pareço-me tão insignificante perto de ti. Fico angustiada só de pensar no regresso ao trabalho! Devia ter tirado a licença de um ano. Toda a gente me diz que me vai saber bem regressar, e sei que devo agradecer por ter trabalho, mas agora ainda me custa muito pensar nisso.
Mas ainda tenho de mudar algumas coisas - tenho de arranjar coragem e força para responder quando põem em causa a forma como tratamos de ti, e para dizer que não concordo quando te fazem alguma coisa que eu não gosto ou não acho correcta. Por ti, hei-de conseguir.

Décima coisa: sou mãe, e posso não ser a melhor do mundo, mas tento sê-lo todos os dias. Há tantas coisas que não sabia e continuo sem saber. O peito não é transparente, como sei se ficas bem? Se digo que às vezes pedes mama de hora a hora, dizem-me que é porque passas fome. No centro de saúde não acreditavam que estavas só a mama porque aumentaste muito de peso e concluíram que o meu leite tem feijoada. E eu vou tentando adaptar-me a ti, enquanto oiço estas coisas diferentes de todos os lados. Não sei se já podes sair mais de casa sem apanhares mil e uma doenças, se podes olhar para a televisão sem te tornares numa viciada que não sabe brincar na rua, se vais preferir um tablet a um caderno para fazer desenhos. Não sei ainda tantas coisas. Mas também sou mãe só há três meses. E tu mudas todos os dias, e eu mudo contigo. Mas uma coisa te garanto: nunca fui tão feliz como sou agora contigo na minha vida. Ver-te adormecer no meu colo, abrires os olhos e sorrires só porque me vês e sentes agarrada a ti, é a sensação mais bonita que eu já conheci. Acho que posso resumir tudo assim: de tudo o que sei e não sei, tenho uma grande certeza, sei que te amo mais do que tudo. E isso há-de servir para chegarmos juntas a qualquer lado (com o pai e todos os que te amam também, que são tantos!). Que seja um lado feliz.
Segunda-feira, 3 de Fevereiro de 2014

.Nas nossas mãos

Sou um bocadinho pessimista e sofro muito por antecipação. E, infelizmente, isto não se muda - eu, pelo menos, não consigo mudar, faz parte de mim. Por curiosidade, no outro dia estivemos a ler as características do signo da rapariga, e fiquei logo triste só por dizerem que ela vai ganhar asas cedo e passar meses sem ligar aos pais. Se tudo correr bem, temos uma vida pela frente, e também está nas nossas mãos, espero, fazer com que seja diferente. Mas eu sou assim, e as hormonas também não ajudam nada, e lá fiquei deprimida. Sou pessimista e sofro por antecipação, pois é, mas depois, no fundo, sou como todas as outras pessoas - acredito, ou quero muito acreditar, que há coisas que só acontecem aos outros e que nunca nos hão-de tocar a nós. Depois vem aquela coisa a que chamamos vida e prega-nos rasteiras, e devíamos aprender qualquer coisa com elas, mas isso nem sempre acontece. Desde que sou mãe tudo me toca muito mais profundamente - um episódio de uma série com um bebé abandonado dá para quase uma hora de choro, fotos de crianças subnutridas ou doentes acabam comigo, notícias de crianças desaparecidas, mortas e outras coisas más deixam-me sem vontade de viver neste mundo. Mas depois olho para a minha pequenita, para a minha família, e fico cheia de vontade de viver, de fazer coisas, de mudar tudo aquilo que estiver ao meu alcance. Sim, porque se há coisas que não estão nas nossas mãos e temos de aceitá-las como chegam até nós, outras dependem apenas da nossa vontade, da nossa coragem, de nós. E era sobre uma destas coisas que eu queria escrever hoje - uma para a qual todos nós podemos contribuir. O Vitor faz parte da minha vida há pouco tempo, mas tem um papel fundamental. É ele que ilumina o coração e alimenta o sorriso, como ninguém conseguiu alguma vez fazer, de uma das pessoas da minha vida, a Tania. O Vitor está doente e, infelizmente, pode ficar ainda mais. A parte boa desta história, sem contar com o amor todo que eles sentem, é que nós podemos contribuir para a saúde e felicidade do Vitor. Como? Fazendo com que seja possível ele viajar até à Alemanha para fazer o tratamento adequado ao tumor dele. Menos um pastel de nata, um café, uma cerveja nas nossas vidas, pode ser mais um euro de esperança para o Vitor. E não deixa de ser também uma dose de esperança para todos nós - quantas vezes podemos dizer que está nas nossas mãos mudar o mundo de alguém? A verdade é que as coisas más não acontecem só aos outros - acontecem aos nossos, acontecem-nos a nós. E quando esse dia chegar vamos querer que nos ajudem também, que mudem o nosso mundo também. Que reencaminhem o nosso pedido de ajuda, que partilhem o nosso apelo, que contribuam com um cêntimo que seja. Acredito que a vida compensa as boas acções. Vamos fazer uma já hoje?
Está tudo aqui: https://www.facebook.com/avitoria.dovitor
L. às 12:24
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Quarta-feira, 22 de Janeiro de 2014

.Noites de mãe

Eram 03:59 quando a ouvi. Não chorava, mas fazia aquele barulhinho que conheço já tão bem de quando anda à procura da mama. Suspira e anda de boca aberta, a apanhar tudo o que está à volta. Desta vez tentava tirar leite da mantinha. Depois percebe que não sai nada dali e, aí sim, começa a chorar. Hoje não foi preciso. Acendi a luz, fiquei uns instantes a observar o meu raio de luz, que me deixa sempre o coração apertado, e meti-a na nossa cama para a refeição da noite. Mamou, adormeceu, despertou, voltou a mamar, a adormecer e a despertar. Aproveitei para lhe trocar a fralda, que é sempre uma aventura. Já sabemos que basta começar o processo para a rapariga se inspirar - chegamos a gastar 4 fraldas na mesma muda. Hoje não foram precisas tantas, mas limpei-a quatro vezes, meti creme quatro vezes, e sempre que ia trocar a fralda lá vinha mais qualquer coisa. Saldo: terminei com cocó na cara, nas mãos, nos braços, no meu pijama, no fraldário, no resguardo, por baixo do colchão da troca. Ela safou-se, desta vez, porque ontem tive de lhe trocar a roupa umas quatro ou cinco vezes à conta de xixis e cocós. Sempre ouvi a expressão "até ao pescoço", mas ela, apesar de também já nos ter presenteado com uns desses, é sempre mais "até aos pés", quando está vestida (não percebo como é que aquilo sai da fralda e encontra caminho pelas calcinhas/collants abaixo!), ou "de esguicho e para todo o lado", em todas as mudas de fralda. Estar perto dela sem fralda é um perigo! No outro dia, só para que a pesassem no centro de saúde, fez um xixi na bancada onde a despimos e outro na balança - deviam meter papel absorvente naquilo e não vegetal, que a moça ficou com urina da cabeça aos pés. Fralda mudada, é hora de adormecer no colo da mamã, antes de passar para a alcofa. Não há música, bonecos, silêncio ou escuro que me valham, ela gosta mesmo é de gente, de ouvir conversas, de calor humano, de olhar para as luzes (é mesmo minha filha, diz a minha mãe) e se puder adormecer com a cara encostada à maminha, melhor ainda. Dizem os entendidos que, se o bebé dorme, a mãe dorme também, vamos lá a isso (e quem é que faz as coisas? E ela deixar? Durante o dia a alcofa e a espreguiçadeira têm picos, o colo da mãe é que tem mel e manda embora as coisas más! A árvore de natal ainda está feita!). Ah, não, espera, tenho de aproveitar que ela faz menos uma refeição de noite e ir buscar a bomba para tirar leite. Vida de vaquinha leiteira - a qualidade que a minha filha mais gosta em mim (por enquanto, espero!). Ser mãe é mesmo o melhor do mundo - à noite também. Até nas noites em que nos encontramos de hora a hora.

Actualização:
Consegui tirar 150ml, enquanto alternava o olhar entre a minha filha (diz que ajuda) e o facebook para passar o tempo. Mais um saquinho no congelador, na preparação para o regresso ao trabalho. Go, go vaquinha leiteira! Agora sim, vamos lá dormir, que às 7 a rapariga deve querer o pequeno-almoço. Às vezes sinto que passo os dias com o peito de fora, que não faço mais nada para além de dar mama e guardar leite. E perdi a vergonha, já saco da mama em qualquer lado. No outro dia, em pleno centro de saúde, tinha 5 senhoras à minha volta a ver, "não se importa, é a coisa mais bonita do mundo! E já viu que os homens não olham? Se entrasse aqui uma mulher com um decote grande, babavam-se todos, assim, respeitam". Já disse hoje que isto é o melhor do mundo? É mesmo!

Actualização 2:
Eram 06:59 quando a ouvi. A minha filha tem um relógio suíço na barriga, de três em três horas o 'despertador' dela toca. Desta vez choramingou um bocadinho, percebeu logo à primeira que a manta não dá leite. Vamos lá repetir o processo todo outra vez. Não cansa. Desta vez chateia-se com a mama e 'discute' com ela, enquanto anda ali a tentar apanhá-la e a fazer barulhinhos engraçados, ao despique com o ressonar do pai. Como é bom senti-la assim, encaixadinha em mim, de olho aberto na direcção dos meus. Mas daqui a pouco podes fechá-los, sim, pequenita? Só um bocadinho! A mãe agradece. Encontramo-nos às 10:00!

Actualização 3:
Ouvi-a resmungar, olhei para o telemóvel, eram 09:00. Não me pareceu que fosse fome, era mais uma conversa. Acho sempre que não assistir a estes momentos da minha filha é um desperdício, o verdadeiro, de tempo, de amor, mas estava tão cansada que voltei a adormecer. Acordei com o barulhinho da fome e pensei que era cedo, só tinham passado 5 minutos desde que tinha fechado os olhos, ou não? Eram 10:00, relógio suíço. Esta foi uma noite boa. Quando nos entendemos, quando até conseguimos dormir e sonhar, tudo está bem. Depois há as outras, como a que tivemos na 6ª, em que a rapariga acorda a todas as horas, quer mama a todas as horas, chora a todas as horas, e nós sem percebermos o que se passa, sem descanso, sem chão, porque ver um filho a chorar sem sabermos o motivo tira-nos tudo. Às vezes é uma dor de barriga, ou uma cólica, ou precisa só do aconchego da maminha por uns breves segundos para atirar a 'guerreira' ao tapete ou é uma luta contra o sono - quem se lembrou de inventar que a noite serve para dormir? Ela não percebe! Tão bom, ter ali a mãe e o pai, e tem de dormir? Que tontos. Essas não deixam de ser noites felizes, que o meu pequeno raio de sol é sinónimo disso mesmo, mas são as noites más. Noites? São noites? Juro que, nessas alturas, nem dou por elas passarem.

Actualização 4:
13:00, hora da mama outra vez. Dez minutos na mama direita, adormece. Mudar a fralda. Aqueço a água para molhar as compressas com que a limpo, ligo o aquecedor, tiro-lhe a roupa, abro a fralda suja e limpo-a para que possa ficar assim um bocadinho, também para ajudar a matar os fungos que por ali apareceram. Fica a conversar e a rir para a boneca que lhe ofereceram para a porta e que eu colei no roupeiro ao lado do fraldário - por enquanto, de vontade, só ri para esta boneca e quando vê a mama. Passados 5 minutos, está na hora de meter a nova. Depois de meter o creme, mesmo no instante em que me preparava para fechá-la, novo presente. Já estou sempre à espera, mas ainda me consegue surpreender e fazer rir. Nova limpeza, novo creme, nova fralda, novo presente de esguicho. Uma só muda, três fraldas. Pequenita, assim estragas as contas ao teu pai! Pela média dele, na folha excel, já tinha fraldas até Agosto, mas parece que lhe vais estragar os planos! Não faz mal, acho que ele gosta tanto de encontrar boas promoções quanto de nós. Brincadeira... Mas não devo andar muito longe da verdade. ;)

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