Não estou a começar o ano da melhor maneira. Hoje, para ajudar, tive um acidente. Não me querendo alongar sobre o acidente em si, queria apenas dizer que nunca me tinham feito sentir tão burra, tão incompetente, tão miserável. Tudo isto feito por um senhor agente da autoridade. Senti-me triste, pequenina, com vergonha. Somos todos pessoas, todos erramos, eu errei, mas não se pode errar assim quando se veste uma farda daquelas. Ainda há uns dias, numa entrevista para um curso, me perguntavam se nestes anos de serviço nunca perdi a calma com ninguém. E não, nunca perdi. Tento sempre ajudar, manter a calma. Foi o que fiz hoje. Tentei manter sempre a calma, responder a tudo, ser simpática e prestável. Mas um dia tenho de deixar de ser assim, cada vez mais me convenço disso – não vou longe. Não se pode humilhar assim ninguém. Até a carta tapou para ver se eu dizia a morada fiscal igual. Tudo tão triste. No final, mesmo antes de me vir embora, tendo em conta que me tinha dito que eu tinha cometido uma infração com multa de 120€ e inibição de conduzir, e até já se tinha despedido, dirigi-me a ele e perguntei como fazia para pagar a multa. Resposta: “Vou pensar se lhe mando a multa para casa ou não”. E é isto. Agora vou ficar a aguardar. Para ver se lhe apetece multar-me ou não. E nem com o senhor do outro carro tive sorte. Eu que até estava com pena porque ele disse que era viúvo, e estava desempregado, e num carro emprestado. Apertei-lhe a mão, desejei-lhe um bom dia. Resposta: “Vá mas é almoçar que a falta de atenção deve ser da falta de comida no estômago”. Engoli em seco, uma vez mais, sorri e entrei no carro. Tenho tanto a aprender ainda com a vida.
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